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Delegação de tiro esportivo está otimista para conquistar medalha olímpica

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Em sua primeira participação olímpica, a delegação brasileira voltou para casa com três medalhas em um único esporte. O ano era 1920, e a modalidade, o tiro esportivo. Quase 100 anos depois, esses continuam a ser os únicos pódios olímpicos do Brasil no esporte, que enfrenta dificuldades para se estabelecer no país e espera conquistar o público com a janela de visibilidade aberta pelos jogos olímpicos.

O presidente da Confederação Brasileira de Tiro Esportivo, Durval Balen, conta que a expectativa para quebrar o jejum de quase um século é grande apesar de “tremendas dificuldades”. “Estamos com uma expectativa extraordinária. Nunca tivemos, modernamente, uma preparação tão boa e uma expectativa tão grande na obtenção de resultados”, acredita Balen, que pondera que o fato de não ter havido uma medalha olímpica nesse tempo não significa que o Brasil não teve bons atletas:

“Tivemos participação nos jogos olímpicos. Não tivemos medalhas, mas conquistamos copas do mundo e tivemos atletas de tiro bem colocados. São só três que sobem no pódio, e o nível é altíssimo. As coisas se decidem por um detalhe”.

Um dos motivos para o otimismo de Balen é o bom desempenho dos atletas brasileiros em competições internacionais. Um dos destaques é Felipe Wu, que venceu a disciplina de pistola de ar a 10 metros na Copa do Mundo de Tiro Esportivo em Bancoc, na Tailândia, no último dia 5 de março, e foi medalhista de ouro no Panamericano de Toronto, em 2015.

As dificuldades a que Balen se refere incluem a falta de patrocínio privado da confederação e da maior parte dos atletas. O presidente acredita que o governo, a população e as empresas não fazem a diferenciação entre o tiro esportivo e as demais atividades com armas. “Como eles têm essa visão, o empresariado se esconde. Não quer encostar o nome da sua empresa nessa atividade”, acredita Balen. “Talvez sejamos a única das confederações olímpicas que não tem um centavo de patrocínio particular”.

O esporte, por outro lado, requer muito investimento. Só em munição, cada atleta de alto rendimento pode gastar até R$ 8 mil por mês. Viajar com os equipamentos de treinos ou importar armamentos é outra dificuldade, já que as regras enfrentadas pelos atletas muitas vezes são as mesmas a que estão submetidas as armas comuns. “A lei trata o desigual como igual”, reclama Balen, que também defende mais flexibilidade que para que jovens possam ingressar no esporte.

No Brasil, o porte de arma para a prática do tiro esportivo, fiscalizado pelo Exército, só é permitido a partir dos 25 anos. A partir dos 18, já é possível treinar em clubes, mas com armas emprestadas e na presença do portador. Para Balen, a prática com pistolas de ar comprimido poderia começar na adolescência.  “Qual é o problema? O tiro não é no quintal da casa, é em um estande de tiro acompanhado dos responsáveis e instrutores, dentro da maior segurança possível”, argumenta ele, que acrescenta: “Aos 25 anos, já era para o atleta estar em um nível de alto rendimento, e não iniciar no esporte.”

Nos jogos do Rio, o Brasil terá nove vagas para disputar as 45 medalhas em jogo nas 15 disciplinas do tiro esportivo. Oito nomes já estão definidos, e a última vaga será anunciada após o Campeonato Mundial de Tiro Esportivo, que servirá como evento-teste entre 14 e 25 de abril.

Praticado pelo fundador do movimento olímpico, o barão Pierre de Coubertin, o tiro tradicionalmente é o esporte que concede a primeira medalha de uma olimpíada e será disputado no Centro Olímpico de Tiro, em Deodoro, na zona oeste do Rio.

Muita concentração

A catarinense Rosane Budag, de 42 anos, é filha e neta de atiradores, tradição herdada da origem alemã. Sua participação nos jogos olímpicos já está garantida, e em duas disciplinas bem distintas: carabina de ar com alvo a 10 metros e carabina de três posições (deitado, em pé e de joelhos) com alvo a 50 metros.

“O centro do alvo a 10 metros é um pinguinho de caneta, então, você tem que ter muita percepção corporal e concentração. Tudo tem que estar muito alinhado para fazer um tiro de ar”, conta ela sobre a primeira disciplina. Na segunda, que é disputada ao ar livre, ainda é preciso lidar com a possibilidade de chuva, a iluminação natural e o vento. Para melhorar a concentração, a atleta faz treinamento de neurofeedback para afastar interferências mentais que possam prejudicar a mira.

“Se estou mirando e uma criança chora na arquibancada, eu sou mãe. Meu foco muda automaticamente. Esse treinamento é para a gente conseguir se isolar dos ruídos externos”, conta ela, que destaca que até mesmo uma gota de suor ou uma fisgada no corpo são suficientes para desafiar a concentração do atleta do tiro esportivo. “Nenhum ponto do corpo pode desviar atenção. No momento em que você sente uma dor, já começa a contrair a musculatura, que precisa estar muito relaxada”.

Campeã brasileira invicta oito vezes na carabina de ar e sete vezes na carabina deitada, Rosane lembra que começou a se dedicar ao esporte depois que seu segundo filho nasceu prematuro, e ela optou por abdicar do emprego de gerente em uma multinacional. “Meu ex-marido já praticava tiro, meu pai atira, minha mãe atira. Eu comecei no estande de tiro e em seis meses bati o recorde brasileiro”.

Final barulhenta

Rosane chama os brasileiros para torcerem pela seleção e conta um detalhe inusitado: enquanto, na fase qualificatória, o público precisa fazer silêncio para não atrapalhar a concentração, nas finais, o costume é provocar os adversários com o máximo de barulho – só não vale chamar o nome dos atletas.

“O público pode gritar, pode bater tambor, pode bater palma. A ideia é brincar com os nervos do atleta”, conta ela.

Para serem televisionadas, as finais olímpicas duram no máximo 40 minutos, o que impõe um limite de tempo para cada disparo das dezenas que precisam ser executadas pelos oito finalistas. “Dependendo da prova, você tem 90 segundos para atirar. E, se perder, não pontua”.

Os pioneiros brasileiros no pódio

Guilherme Paraense e Afrânio Costa foram os primeiros brasileiros a conquistar medalhas olímpicas, nos jogos da Antuérpia, na Bélgica. Uma série de dificuldades como a longa viagem e até o furto de armamentos, munições e alvos foram obstáculos que os militares tiveram que superar. Afrânio foi o primeiro brasileiro a vencer uma medalha, com a conquista da prata na pistola livre individual de 50 metros, e Guilherme conquistou o primeiro ouro olímpico do país no tiro rápido individual de 25 metros.

Os dois ainda ganharam o bronze na prova de pistola livre de equipe, com Sebastião Wolf, Fernando Soledade e Dario Barbosa.

*Colaborou a repórter Nanna Possa

Edição: Valéria Aguiar

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