Brasil

Aos 68 anos, morre a jornalista e cronista Bety Orsini

4 Min leitura

Poucas pessoas conseguiram falar de amor e sexo com tanto humor e delicadeza quanto a jornalista carioca Bety Orsini, niteroiense convicta (é autora de “Crônicas do coração”, uma coletânea de crônicas apaixonadas da cidade), que se formou em jornalismo pela PUC, começou a carreira no “O Fluminense” e trabalhou 14 anos no “Jornal do Brasil”, onde, entre outras coisas, esteve à frente de uma das colunas de maior sucesso da época, o ” Perfil do Consumidor”, um ping-pong publicado no Caderno B, com perguntas irreverentes a celebridades. Para Bussunda, perguntou qual tinha sido o lugar mais estranho onde ele havia feito sexo. “São Paulo”, respondeu o entrevistado.

Em 1994 ingressou no O GLOBO, onde passou pelo Segundo caderno, Prosa & Verso, trabalhou com o Zózimo, na Coluna do Swann de Alessandro Porro e por último no caderno Ela. Paralelamente, manteve um programa na Rádio Globo, um Correio Sentimental moderno. Uma vez, a bordo de um táxi, que estava sintonizado em seu programa, ouviu do taxista: essa mulher está acabando com o meu casamento! Minha esposa anda se achando, reivindicando coisas que nunca havia feito. Esse programa tem que acabar”, contava às gargalhadas.

Aos sábados, mantinha uma crônica no Globo Niterói. Seu último texto, já internada, Bety discorreu sobre o estranhamento de estar gostando de hospital: “Se alguém me dissesse, há alguns anos, que eu passaria uma temporada num hospital, confortavelmente instalada, recebendo visitas, conversando ou fingindo dormir se me desse na telha e deixando aos outros a preocupação com a minha saúde, eu diria: Vocês estão loucos? Eu detesto médicos! Hospital, eu estou fora!” . E fala sobre os paparicos dos médicos e o conforto de estar sendo bem tratada. As sensações. Ao final, despede-se do leitor anunciando uma pausa: “Estarei de férias em julho, vestindo o look paz de espirito”

Sexo, amores, encontros, desencontros, psicanálise eram temas recorrentes

No caderno Ela foi uma das grandes responsáveis por manter o sexo e os relacionamentos em pauta. Bem-humorada, ela explicou, em entrevista, por que gostava tanto de escrever sobre o tema.

“É porque eu não faço! Na verdade, acabei virando setorista na área por causa da minha personalidade. Sempre fui muito piadista, fazia todo mundo rir com piadas sexuais”, resumia Orsini, que vivia às voltas com excesso de peso.

— Bety tinha um espírito jovem, generoso, curioso e sem preconceito, deixando os entrevistados tão à vontade que eles acabavam se revelando mais do que a outros jornalistas. Seu texto tinha um cumplicidade de conversa ao pé do ouvido, tão cativante quanto ela. E no âmbito pessoal, ela era a melhor das confidentes, sempre torcendo pelos amigos — lembra a editora Ana Cristina Reis, que por anos trabalhou com Bety no caderno Ela.

Bety colocou Rogéria na capa, fez Maria Bethânia contar sobre a paixão em desenhar joias, Monique Evans abrir o coração e falar sobre a depressão e conseguiu reunir Zuenir Ventura e Luis Fernando Veríssimo declararem suas paixões por suas netas.

— Generosa, lúcida, irreverente, ousada e apaixonada pela família. Foi a pessoa mais desprovida de preconceitos que conheci. Em suas mãos, qualquer bobagem virava um grande texto — elogia a amiga de longa data e crítica gastronômica do GLOBO, Luciana Fróes.

Gulosa, comida era uma de suas conversas preferidas. Já em momentos críticos, internada na UTI, pediu a um fiel amigo o impensável: “Antes de eu partir, queria comer um pão com uma boa linguiça. Você dá uma jeito?”

É autora de “Toda maneira de amor vale a pena – 20 histórias de quem superou o preconceito” (Ed. Primeira Pessoa), “Minha vida com mamãe – e outras histórias de família”, que reúne 45 textos publicados desde 2006 no Globo Niterói (Ed. Rocco) e “Nas ondas do rádio – Histórias sentimentais de mulheres e homens do Brasil”, com 25 depoimentos interferem na vida do ouvinte e na nossa também.

Adepta incondicional da psicanálise, ela sempre preferiu a autenticidade e as histórias de vida e de superação. Quando o Ela fez 50 anos, escreveu sobre suas inclinações jornalísticas:

“Durante esses anos ouvi relatos fantásticos em minhas entrevistas. Como a história de João W. Nery, a primeira mulher a virar homem no Brasil, que contou, em livro, como se mutilou para se libertar. Outras entrevistas deliciosas como a da publicitária Monica Debanné, que cria os anúncios da rede Hortifruti como o famoso ‘O quiabo veste Prada’”.

Impactante foi o ensaio protagonizado pela atriz Clarice Niskier. Nua, só com os cabelos lhe cobrindo os seios, ela mostra que mulheres como ela, cheias de estilo, desafiam a norma da etiqueta que diz que cinquentonas não devem usar cabelos compridos.

“Há alguns anos convidei o joalheiro Antonio Bernardo para uma conversa com o mineiro Antonio Bernardos e deu supercerto. Afinal, quem pode juntar o mais sofisticado dos designers com um operário de Nova Iguaçu que, em comum, têm o mesmo perfeccionismo?”

Nas crônicas, a mãe de Bety, Dona Amélia, 89 anos, fazia sucesso. Em entrevista ao jornal, ela falou sobre a filha:

“Elizabeth gosta de fantasiar. E eu sou muito pé no chão. E acho desnecessário ficar se expondo — opina dona Amélia, ressaltando que, apesar do jeito expansivo, Bety nunca lhe deu trabalho. “Ela sempre foi muito estudiosa e tocava piano muito bem. Antes de aprender a ler, decorava as histórias que eu contava para ela e depois as contava para outras pessoas, como se estivesse lendo o livro.”

Bety Orsini morreu aos 68 anos, depois de lutar três anos contra um câncer. Ela deixa sua mãe Amélia, seu filho Marco Antônio e os netos João, 4 anos e Bento, 3 anos. Seu corpo será enterrado amanhã, às 13h, no Parque da Colina, no Itaipu. Seu corpo está sendo velado na Capela 13.

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