Principal ligação entre a zona sul do Rio de Janeiro e a Barra da Tijuca – onde ficarão a maioria das arenas dos Jogos Olímpicos de 2016 – o elevado do Joá, tem risco de colapso, segundo estudo realizado pelo Programa de Engenharia Civil da Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia (Coppe/UFRJ) a pedido da prefeitura do Rio de Janeiro, por meio da Secretaria Municipal de Obras e Conservação (SMO).
No fim da tarde desta terça-feira, a Associação Brasileira de Pontes e Estruturas (ABPE), o Clube de Engenharia e a Coppe/UFRJ apresentaram o estudo detalhado para especialistas em engenharia de todo o Brasil, no Clube de Engenharia, no centro do Rio. No estudo, que começou em 2010, constam diversas fotos, vídeos e relatórios que comprovam a grande corrosão que os dentes Gerber (apoios do viaduto entre a pista e os pilares) vêm sofrendo nos últimos 40 anos, além de mostrar outros problemas de menor impacto estrutural.
Responsável pelo estudo sobre a segurança estrutural do viaduto das Bandeiras (elevado do Joá), o professor Eduardo Miranda Batista, do Programa de Engenharia Civil (PEC) da Coppe/UFRJ, e o engenheiro Luiz Martins de Miranda, da Ecoprotec, apresentaram as conclusões do estudo e as recomendações propostas para a recuperação do elevado.
Para o professor Batista não há outra solução que não seja a reconstrução do viaduto. Já que de acordo com o documento, dos 1.996 dentes Gerber que há na estrutura do elevado, apenas 840 (ou seja, 42,1% de todo o elevado) puderam ser analisados e, deste total, a corrosão é visível em 10% dos locais observados, sendo que o restante está bem degradado. Os outros 1.156 dentes Gerber são de difícil acesso e não puderam ser verificados no estudo devido à posição que ocupam (as faces frontais e inferiores), mas, segundo o especialista, esses dentes são os mais afetados pela água da chuva e pelo material que cai sobre as pistas e é carregado pela água em direção às juntas de dilatação do elevado.
“A nosso ver não há outra alternativa que não seja a reconstrução do elevado. É importante falar que estamos trabalhando com o secretário de obras e com a prefeitura, e eu tenho certeza que o secretário vai conseguir levar esse estudo ao prefeito. Reconhecemos a dificuldade do gestor tomar uma decisão dessas. Isso não é de uma hora para outra, mas do nosso ponto de vista essa é a única solução para o elevado do Joá”, disse Batista.
Na tarde de hoje o prefeito do Rio, Eduardo Paes, respondeu ao jornal O Globo que não pretende demolir o elevado, mas pediu que seu secretário municipal de obras, Alexandre Pinto, acatasse o estudo realizado pelo Coppe sobre a situação do elevado. Batista ainda falou que o risco do elevado sofrer uma ruptura e vir abaixo é possível, embora não saiba precisar quanto tempo pode levar para isso acontecer. Já que o viaduto sofre de uma corrosão que não mostra sinais aparentes, a ruptura poderia ser abrupta, ou seja, de uma hora para outra.
“Isso é impossível precisar. Só Deus vai dizer. No nosso relatório de 2010 sugerimos que se providenciasse um projeto de via alternativa, através de especialistas de vias e transportes. A corrosão que vem sofrendo o Joá não é vista a olho nu, mas o estudo pode detalhar e precisar os problemas”, concluiu o especialista.
Segundo o diretor da Coppe/UFRJ, Luiz Pinguelli Rosa, tão logo a análise foi concluída pela instituição – em agosto – e dada à gravidade dos problemas encontrados no elevado, foi pedido um pronunciamento da prefeitura, o que não ocorreu. Após a conclusão do aditivo, no dia 26 de novembro, e da iminência de uma ruptura de parte do viaduto, devido a grande corrosão dos dentes Gerber provocada pelas chuvas e pelas marés, uma reunião foi pedida com o prefeito, e mais uma vez a equipe do Coppe não foi recebida. “Estamos tentando agendar uma audiência com o prefeito, mas até agora não conseguimos conversar com ele, somente com o chefe de gabinete dele”, disse o diretor da Coppe.
Solução
A construção de um viaduto paralelo ao elevado do Joá seria a solução, segundo o professor da Coppe/UFRJ, Paulo Cézar Martins Ribeiro. PhD em engenharia de transportes, Ribeiro afirmou que um estudo de construção de um viaduto margeando a orla de São Conrado e chegando a avenida Lúcio Costa foi entregue à prefeitura há quase 15 anos, baseado no fluxo de carros que iria circular na região, e não por causa de problemas estruturais que o elevado podia sofrer.
“Até hoje nada foi feito. O estudo realizado entre 1998 e 1999 foi baseado no grande fluxo de carros que a via receberia ao longo dos anos. A construção de um viaduto é algo que não leva tanto tempo, no máximo dois anos. E é necessário duplicar aquela via devido ao grande número de veículos que circula entre a Barra e a zona sul, esse é um grande gargalo da cidade. Você não pode obrigar as pessoas a andarem de transporte público”, disse Martins.
Segundo o relatório da Coppe, o processo de corrosão do elevado – uma espécie de “doença crônica” da via – é generalizado e atinge grande parte dos elementos que formam o viaduto, sendo essa a razão de sucessivas intervenções e obras de reparo e reforço do elevado ao longo das últimas décadas. Para os especialistas, a solução é a reconstrução de 1,1 mil m² do elevado, com técnicas de engenharia mais modernas. O estudo também aponta que é necessário em curto prazo proibir a circulação de caminhões e reduzir os limites de velocidade dos automóveis e dos ônibus de 80km/h para 60 km/h.
“O avanço da corrosão compromete a segurança do viaduto e exige serviços de reparo a serem executados com a maior urgência. Para se ter uma ideia, basta que apenas um desses dentes Gerber se rompa para que ocorra um sério acidente no elevado”, concluiu o professor Batista.