Presidente da SBPC irá moderar debate com o pesquisador Jens Ried, da Friedrich-Alexander-Universität (FAU), o diretor científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz, e a professora Sonia Vasconcelos, da UFRJ.
Numerosos casos de fraude na ciência trouxeram o debate para a arena pública. Entre os de maior repercussão nos últimos anos, figuram a farsa da clonagem humana liderada pelo sul-coreano Hwang Woo-suk e os estudos forjados pelo anestesista alemão Joachim Boldt. Para o pesquisador Jens Ried, da Friedrich-Alexander-Universität (FAU), de Erlangen-Nuremberg, da Alemanha, os escândalos também evidenciaram falhas na estrutura do sistema da pesquisa científica que, muitas vezes, facilitam erros.
Esse será um dos assuntos que ele abordará na mesa-redonda “Ética na Ciência”, no dia 17/07 durante a 69ª Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), que será realizada na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte. A atividade integra a programação do Centro Alemão de Ciência e Inovação – São Paulo (DWIH-SP) no evento da SBPC.
Além de Jens Ried, que é diretor do Centro de Gestão, Tecnologia e Sociedade da FAU, participam do debate o diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), Carlos Henrique de Brito Cruz; a professora Sonia Maria Ramos de Vasconcelos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e a presidente da SBPC, Helena Nader, como moderadora.
Na visão de Ried, embora a comunidade científica tenha criado estratégias para prevenir e combater fraudes, erros de conduta, manipulação de dados, plágios e metodologias deficitárias, ainda existem pontos vulneráveis no sistema. “O debate vai abordar esses pontos e argumentar que participação política e pública é importante para garantir a liberdade científica e, ao mesmo tempo, a credibilidade da ciência e dos pesquisadores”, detalha Ried.
O mau uso de dados, manipulação dos resultados ou a omissão dos resultados indesejados são considerados como fraude e se diferenciam dos erros possíveis que um pesquisador, sem querer, pode cometer. O número e a frequência de pesquisas que se enquadram nessa descrição ainda são desconhecidos.
Um estudo publicado na renomada Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) apontou que o número de retratações de artigos já publicados aumentou consideravelmente nos últimos 30 anos. A revisão detalhada de 2047 estudos publicados na área de biomedicina e ciências da vida entre 1977 e 2011 e que, mais tarde, foram retratados, mostrou que apenas 21,3% faziam referência a erros. A maior parte das retratações, 67,4%, era atribuída a má conduta, incluindo fraude ou suspeita de fraude.
Para o pesquisador alemão, é preciso discutir também as causas por trás das mentiras. Pressão para publicar resultados, competição por financiamento, expectativa por grandes descobertas num espaço curto de tempo, problemas de comunicação e falta de discussão crítica são apontados como fatores que contribuem para o aumento dos casos de fraude.
“Fazer ciência é produzir conhecimento de qualidade, por meio de uma pesquisa imparcial, com metodologias adequadas e abertura para a crítica”, pondera Ried. Dentre as propostas para aumentar a proteção de dados de pesquisa, acabar com falsificações e plágio na produção de estudos estão a intensificação do debate público, inclusive nas universidades, centros de pesquisa e instituições.
Serviço:
Mesa-redonda: ÉTICA NA CIÊNCIA
Dia 17/7/2017, das 15h30 às 18h00.
Auditório da Reitoria da UFMG (Av. Pres. Antônio Carlos, 6627 – Pampulha, Belo Horizonte – MG).