Parte do benefício será para dívidas e não muito para compras, aponta CDL/BH
*Felipe José de Jesus (JCE)
Com a aproximação das festas de fim de ano, os lojistas esperam lucrar, principalmente com o uso do pagamento do 13° salário. Somente neste ano, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), afirma que o beneficio poderá injetar cerca de R$14,8 bilhões na economia mineira. Aproximadamente 9% da quantia total do Brasil que será de R$158 bilhões.
No entanto, um fator pode dificultar a aplicação do beneficio no comércio: a inadimplência. De acordo com dados da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), somente no mês de outubro, as dívidas cresceram 2,27% se comparadas ao mesmo período de 2013. Por isso, muitos consumidores poderão frear suas compras se não regularizarem os débitos.
O supervisor técnico do Dieese em Minas Gerais e economista, Fernando Duarte, declara que apesar da inadimplência crescente, o 13° terá uma grande valia para o Produto Interno Bruto (PIB). “O pagamento poderá corresponder a 2,9% do PIB do Estado. Os dados do Dieese apontam que o Brasil terá um crescimento de 10,1% frente a 2013. Segundo o Dieese, aproximadamente 84,7 milhões de brasileiros serão beneficiados com um rendimento adicional, em média, de R$ 1.774. O 13º será pago a trabalhadores do mercado formal, inclusive os empregados domésticos, os beneficiários da Previdência Social, os aposentados e beneficiários de pensão da União, dos Estados e dos municípios”.
De acordo com Duarte uma prova de que o beneficio pode ser uma boa aplicação para a economia mineira é que houve um crescimento de beneficiários. “Mesmo com menor geração de empregos no país foi verificado um aumento de quase 200 mil beneficiários. Em Minas, cerca de 9 milhões de trabalhadores e aposentados receberão o 13º salário. Isso representa um acréscimo de 2,2% em relação ao ano passado, quando foi totalizando 8,798 milhões de trabalhadores. Fora isso, ainda temos o incremento na renda dos trabalhadores, já que os reajustes salariais concedidos neste ano estão acima da inflação”.
Comércio em xeque
A economista da CDL/BH, Ana Paula Bastos, diz que a melhora de renda assinalada pelo Dieese tem feito o poder de compra crescer, mas ela lembra que o custo de vida encareceu. “A alta da inflação e dos juros levaram muitos consumidores a se endividarem e tornarem-se inadimplentes. Isso vem atrapalhando o andamento do comércio. Por essa razão, o planejamento financeiro é uma importante ferramenta para o controle dos gastos”, orienta.
Ana Paula explica que o valor de R$ 14, 8 bilhões não será aplicado diretamente no consumo no fim de ano. “O valor não será no consumo, isso é fato. Os consumidores devem seguir algumas regras para saírem do vermelho. A primeira parcela do 13° deve ser direcionada para dívidas, enquanto a segunda para pagamentos de compromissos do inicio do ano e alguns presentes”, sugere.
O comerciante Pedro Paulo de Assis Jr, que administra uma loja de departamentos em BH, diz que está preocupado com o fim de ano e que está difícil acreditar em números satisfatórios. “Estamos com as vendas paradas desde setembro. Se a inadimplência não diminuir, não teremos bons resultados. Nem mesmo as compras no cartão que antes lideravam, estamos conseguindo alcançar e olha que temos feito diversas promoções. Têm parcelas que começam a vencer somente em janeiro, mas mesmo assim os vendedores não estão conseguindo bater as metas. O 13° pode ser uma saída, mas está difícil apostar nele”, revela.
Pouca consciência
Ana Paula afirma que as mulheres são mais conscientes que os homens e que eles devem se atentar. “No mês de outubro, a maioria das dívidas em atraso foi contraída por consumidores do sexo masculino (50,79%), o feminino foi responsável por 49,21% dos registros. Assim, a melhor maneira é se planejar”.
A consumidora Regina Bastos conta que vai seguir a risca as dicas. “A ideia é pagar as dívidas e não contrair mais nenhuma. Preciso quitar o crediário que tenho em uma loja. E metade do meu benefício será usado para comprar presentes dos meus dois filhos, mas todos bem baratos. Não posso exagerar”.
Já para o consumidor Roberto Silva, nem sempre é possível comprar a vista conforme aconselha a economista. “Gosto de pagar à vista e quitar as dívidas, só que nem sempre isso é possível. O 13° salário ajuda, mas prefiro parcelar as despesas a ficar sem comprar nada. É um período muito familiar e não tem como deixar de consumir”, comenta.
Sem expectativas
Questionada se pode haver aumento da inadimplência acima do previsto, Ana Paula afirma que ainda não existe um número preciso. “Não deve crescer mais do que isso, pois em novembro ela entra no pico máximo. E se normaliza em dezembro, já que as pessoas começam a pagar os débitos com o 13º. É preciso manter as contas em dia para evitar situações de endividamento”.