Nem mesmo a medida do Banco Central deve ajudar nas vendas
Economista Iracy Cunha: “A inflação no acumulado do
primeiro semestre está em 6,8%” (Foto: CDL/BH)
* Jornalista
Felipe José de Jesus ))
Nem mesmo as datas comemorativas como o Dia das Mães, dos Namorados e dos Pais foram capazes de melhorar o desempenho do varejo no primeiro semestre de 2014. De acordo com a pesquisa Termômetro de Vendas, da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH), de janeiro a junho, o varejo teve alta de 1,9% em 2014, de 3,99% em 2013, 6,75% em 2012, 6,06% em 2011, 6,1% em 2010 e de 3,9% em 2009. Ou seja, é o pior desempenho do comércio se comparado aos últimos 5 anos. Para a CDL, a queda pode estar atrelada ao desempenho negativo do comércio e da deterioração do cenário econômico neste ano em função do aumento dos preços e das taxas de juros.
Em entrevista, a economista da CDL/BH Iracy Cunha, explica que o consumidor tem comprado menos e priorizado gastar apenas o básico com supermercados, alimentos e vestuários. “O problema se deve principalmente a inflação que tem um poder extremamente corrosivo no salário, ou seja, faz com que os preços aumentem. As pessoas estão comprando menos porque o mínimo não acompanha a realidade. Temos ainda a taxa de elevação da Selic, que começou no ano passado e se estendeu até maio deste ano. A indústria tem tido péssimos reflexos, tanto que muitas montadoras estão afastando seus funcionários. Todos esses fatores somados refletem em um menor consumo. O fato é que a população vai se manter nesse patamar até o fim do ano”, orienta. Ela acrescenta ainda que o atual quadro se deve ao forte incremento dado ao consumo.“O problema surgiu com o ‘boom’ do consumo que tivemos a partir de 2010. Com isso, tivemos uma pressão na demanda e os preços dispararam, ou seja, o aumento é uma consequência daquele momento de euforia. As condições em 2012 eram melhores, nessa época, as pessoas compraram o que puderam e muitos estão pagando até hoje. Vemos muitas promoções, mas agora com as taxas de juros altas e os bancos restringindo crédito nem mesmo o Imposto Sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido vai alavancar a venda de carros”, afirma.
Banco Central
No dia 20 de agosto, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou uma medida do Banco Central (BC) que vai aumentar em até R$ 25 bilhões a oferta de crédito no país para estimular as vendas. Segundo o BC, a medida surgiu devido a um cenário de melhora da economia. No entanto, a economista acredita que isso não vai trazer efeitos. “A medida é limitada, pois as taxas de juros cobradas pelos bancos são altas para empréstimos, principalmente por causa do histórico de calotes. O que enfrentamos agora são pessoas pagando parcelas de compras feitas há praticamente 2 anos e, com isso, elas não vão contrair outros empréstimos. A medida do BC é restrita, pois não tem como uma pessoa fazer um empréstimo já estando endividada”, comenta.
A especialista lembra que a inflação no acumulado do primeiro semestre está em 6,8%. O índice de 0,03% anunciado, pela presidente Dilma Rousseff, e que causou muita confusão era apenas um dado de junho para julho de 2014. “A verdade é que ainda estamos em um momento difícil”.
Para ela, a melhor saída é investir nos consumidores. “Na realidade, o cenário deteriorou e o melhor a se fazer é ficar de olho nos consumidores. Não olhar somente a questão do preço, mas investir no atendimento e nas formas de pagamento. As promoções são essenciais, por isso, está na hora de atraí-los”.
Expectativas >>
De acordo com a economista, poderá haver uma melhora no comércio varejista a partir de outubro, mas precisamente no Dia das Crianças. Porém, ela adverte que os próprios consumidores devem se organizar financeiramente para voltarem a comprar. “Em 2014, tivemos três datas ruins: O Dia das Mães, que teve um avanço baixo de 0,38%; o Dia dos Namorados com 0,18%, e o Dia dos Pais que não teve bons resultados. Teremos agora o Dia das Crianças que é uma data que os pais não conseguem fugir. Pode ser que o ticket médio tenha uma redução, mas as vendas são melhores. O crescimento do varejo na capital mineira para esse ano era de 3,5%, mas foi reduzido e poderá ser de 2% a 2,5%”, aposta.
Ela conclui dizendo que, “o comércio conta com o consumidor, só que ele deve ficar atento quanto à questão do orçamento e não fazer compras por impulso. É preciso tomar cuidado com o cartão de crédito por causa dos juros. Com essa consciência, teremos o consumidor retomando e fazendo o comércio avançar novamente”.