Felipe José de Jesus
Um dos setores mais pujantes da economia brasileira acaba de sofrer um forte impacto: o da construção civil. Prova disso está na pesquisa divulgada pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil de Minas Gerais (Sinduscon-MG), que mostra queda de 15% nas vendas de imóveis em Belo Horizonte no primeiro trimestre de 2014 em comparação ao mesmo período do ano anterior. As vendas saíram de 826 unidades para 695 e muitas construtoras estão parando suas atividades e o pior, demitindo funcionários por causa da forte queda na aprovação de projetos imobiliários pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH).
Em entrevista ao jornal Edição do Brasil, o diretor imobiliário do Sinduscon-MG, Bráulio Franco Garcia, diz que a redução de 15% nas vendas foi levado pela carência de terrenos disponíveis. “A situação se agravou por causa da Lei 9959/2010, criada pelo prefeito Marcio Lacerda, que restringiu o potencial de terreno em BH. Cada solo que poderia construir 100 apartamentos, hoje chega a 50 e isso inviabilizou o setor. Desde 2010 nós do Sinduscon viemos indicando que a nova lei ia afetar. Não afetou nos primeiros anos, por que muitos projetos foram aprovados antes da promulgação da lei em junho de 2010. Todos os projetos que estavam na antiga lei, conseguiram prosseguir como uma série de lançamentos até 2012”, ressalta.
Já para o presidente da Câmara da Indústria da Construção Civil da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Teodomiro Diniz Camargos, o maior impacto desta queda se deu nos apartamentos de R$ 100 a R$ 250 mil. “Houve uma queda de 77,24%. Uma explicação plausível para esse impacto maior na classe de apartamentos a preços mais baixos é a inflação. Isso porque, os primeiros a serem afetados com a elevação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) são as classes com menor poder aquisitivo da população. Elas possuem uma vulnerabilidade maior quanto ao comprometimento da renda e ameaça de desemprego em tempos de economia instável”, lembra.
Parados
Os projetos imobiliários aprovados pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) caíram entre janeiro e abril deste ano. Saíram de 160 para 97 projetos ao mês, recuo de 60,6% na comparação com os dos mensalmente no segundo semestre do ano passado. O coordenador sindical do Sinduscon-MG, Daniel Furletti, lembra que as expectativas para os próximos meses também não são boas e que a Copa ajudou nisso.
“Juros altos, inflação, baixo crescimento econômico e redução no consumo das famílias são alguns dos fatores negativos. O Mundial seria sinônimo de obras em infraestrutura. Mas não aconteceram as intervenções previstas. Como se não bastasse a reversão das expectativas iniciais, o evento esportivo ainda impactará negativamente nos resultados das empresas neste ano. Isso porque muitos consumidores estão adiando a aquisição de imóveis por causa da competição esportiva, o que tem levado os empresários a repensarem os investimentos”, comenta.
Demissões
De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) houve déficit na geração de empregos da construção civil. Ao todo foram 29.552 contratações contra 32.837 desligamentos resultando em um saldo negativo de 3.285 empregos. “Com esta legislação atual e com a próxima que o prefeito Marcio Lacerda esta querendo implantar, teremos demissões em massa. Ou seja, teremos demissões como nunca se viu no setor, podem esperar”, completa o diretor comercial da Sinduscon-MG, Bráulio Franco.
O secretário de Desenvolvimento Municipal da Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), Leonardo Castro, disse em declaração que a redução do coeficiente de áreas tem o objetivo direto apenas de frear o adensamento de Belo Horizonte. “É dever da Prefeitura garantir o ordenamento territorial da cidade. O dinheiro arrecadado pela prefeitura com a venda do direito de construir será aplicado em meio ambiente, mobilidade urbana e qualidade de vida da população”, conclui.