A Olimpíada do Rio de Janeiro vivenciou um momento inusitado e surpreendente dentro do mundo LGBT, quando Isadora Cerullo, jogadora da seleção brasileira de rugby, que acompanhava a premiação da campeã Austrália, foi pedida em casamento pela namorada Marjorie Enya, uma voluntária do Rio 2016. A gerente pegou o microfone e, ali mesmo no campo, fez a declaração de amor, encantando a plateia.
Um momento que valorizou a luta dos Jogos Olímpicos no Brasil para se posicionar como os jogos da diversidade LGBT. “Apesar da surpresa, encarei como um fato natural”, comentou Izzy, como é conhecida Isadora, que pertence a um grupo de 64 atletas e técnicos abertamente gays, lésbicas, bissexuais, transgêneros ou transexuais que participam da competição. ”Esse número vem crescendo a cada dia”, acrescenta a jogadora. Só na última semana, ao menos dez atletas declararam sua opção sexual.
Esses números representam um aumento bastante expressivo em relação à Olimpíada de Londres, em 2012, quando eram 23 atletas os assumidos, e à Pequim 2008, quando o grupo somava apenas dez. Mas o número não passa de poeira se comparado aos mais de 11 mil atletas que disputam as competições dentro do Brasil.
Existem representantes de países onde há mais intolerância sexual e que aproveitam a permanência no Rio de Janeiro para desfrutar de mais liberdade, mas não têm coragem de se assumir dentro da sua nação. E, mesmo nos Estados Unidos, um país que julga sagrada a liberdade de expressão, há outro tipo de pressão: a econômica.
Os milionários contratos publicitários fazem com que atletas LGBT e de ponta norte-americanos prefiram assumir sua sexualidade apenas depois de encerrarem a carreira, como no caso de Greg Louganis,um dos maiores fenômenos na categoria olímpica de saltos ornamentais. Considerado o melhor do mundo nas competições de plataforma e trampolim entre os Jogos de 1976 e 1988, ele declarou sua homossexualidade apenas em 1994.
Esse temor não afligiu, por exemplo, o britânico Tom Daley, de 24 anos de idade, medalha de bronze no salto em Londres 2012 (individual) e agora no Rio 2016 (sincronizado) – no período entre esses eventos, em 2013, ele postou um vídeo no YouTube assumindo sua relação com o roteirista Dustin Lance Black.
A história está mudando
Aos poucos, essa situação está se revertendo. Antes do início das Olimpíadas no Rio de Janeiro, o site Outsports, especializado em notícias sobre esportistas homossexuais, apontou atletas americanos na lista dos assumidos, como a jogadora de basquete Brittney Griner. ”Há uma maior disposição para os atletas se sentirem livres para competir sem pressão”, disse Izzy.
A situação, no entanto, não vale para todos os países que ainda têm essa resistência e até um certo preconceito. A China, por exemplo, a maior nação do mundo, não trouxe nenhum atleta assumidamente homossexual, o que certamente não é algo real, segundo a opinião de Peng Yanhui, assessor da defesa dos direitos de LGBT chinês, um grupo que incide sobre os direitos legais das minorias sexuais. Ele publicou um artigo sobre os atletas em seu site WeChat no qual questiona a posição de seu país.
Peng Yanhui cita casos clássicos do esporte como o do casal formado por Helen e Kate Richardson-Walsh, jogadoras de hóquei sobre grama da Grã-Bretanha que são casadas: não existem atletas chineses fora do armário? “Não estamos dizendo que os atletas têm de sair. É sua escolha. Mas, em um ambiente adverso, eles não se atrevem”. O caminho da comunidade LGBT, segundo ele, será definido pelas mulheres, maioria entre os atletas assumidos.