o iluminado
O ILUMINADO – Adaptação da obra de Stephen King para o cinema
(WARNER/DIVULGAÇÃO)

 

*Paulo Henrique Silva – Hoje em Dia
Dos 100 filmes listados e comentados entre os mais emblemáticos na transposição de histórias da literatura para o cinema, 68 têm um pé na França, seja no investimento, nas locações, na participação do diretor ou na fonte literária.
É possível dizer, a partir da análise desses números presentes no livro “100 Filmes – Da Literatura para o Cinema”, recém-lançado pela editora Best Seller, que as principais adaptações cinematográficas têm origem francesa?
Ainda que o país tenha produzido trabalhos instigantes nesse segmento, como “Uma Mulher para Dois” (1953), de François Truffaut, e “O Tambor” (1979), de Volker Schlöndorff, o livro revela um alcance limitado
Talvez por reunir críticos e professores franceses, a publicação tenha optado por essa concentração, que é mais geográfica do que qualitativa, deixando de fora obras representativas para a discussão que busca empreender.
Se tomarmos como referência as listas de melhores filmes de todos os tempos, sentiremos a falta, por exemplo, de “O Mágico de Oz” (1939), “Blade Runner” (1982), “A Lista de Schindler” (1993) e “Cidade de Deus” (2002).
Entre as obras de Stanley Kubrick, maior adaptador para a telona, o livro só aborda “Lolita” (1962), “2001” (1968) e “Barry Lyndon” (1975). Pouco para um gênio que apresentou também “Laranja Mecânica”, “O Iluminado” e “Nascido para Matar”.
Essas ausências são mais sentidas quando percebemos que filmes franceses de pouca relevância ganham espaço, como “Jean de Florette” (1986), “Coronel Chabert” (1994), “O Cavaleiro do Telhado e a Dama das Sombras” (1995).
As escolhas não são justificadas na apresentação de Henri Mitterand (professor de literatura especializado em Émile Zola), que adota um olhar intransigente ao comparar obras de linguagens tão diferentes, mostrando o cinema sempre aquém.
O cinema nunca irá alcançar o que ele define como “prolongamento numa duração indefinida”. Para o autor, o problema do cinema é não ter tempo, “um tempo verbal, para alongar o acontecimento e vivência na duração (…)”.
Mitterand conclui que as adaptações de “romances construídos segundo um modelo aristotélico do drama” têm mais chances de serem bem-sucedidas. Observação que, curiosamente, é relativizada em vários textos do livro.
Ao comentar “Zazie no Metrô” (1966), de Louis Malle, por exemplo, o crítico Philippe Leclercq destaca a criação de um filme de tal liberdade de tom que “permite-lhe traduzir o universo significante de (Raymond) Queneau”.
Ele reproduz os objetivos de Malle à época, síntese do que deve ser uma transposição: “Eu achava que a aposta de adaptar Zazie representaria para mim a oportunidade de explorar a linguagem cinematográfica”