*Letícia Alves – Hoje em Dia
Foi dado mais um passo para a construção da trincheira na avenida Pedro I, em substituição ao viaduto Batalha dos Guararapes, que desabou há seis meses matando duas pessoas. O projeto básico do empreendimento, elaborado pela Consol Engenharia, foi entregue à Prefeitura de Belo Horizonte. Depois da liberação pela Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap), a previsão é a de que a Consol entregue o projeto executivo, que detalha a obra e define valores, em até 60 dias, ou seja, até o início de março.
A empresa assumiu a responsabilidade pela trincheira antes do fim das investigações sobre as causas do desabamento, em acordo com o Ministério Público Estadual (MPE), no dia 23 de outubro do ano passado. A Cowan, responsável pela construção do elevado, ainda não confirmou se irá executar o projeto da trincheira.
Subsolo
A Sudecap informou, em nota, que a avaliação do projeto básico é feita juntamente com a BHtrans, a Consol e empresas concessionárias de esgoto e energia, uma vez que a escavação pode atingir as redes de água, esgoto e luz. Esse projeto foi encaminhado ao município no dia 24 de dezembro – um dia após o fim do prazo estabelecido pelo MPE. “ Se não tivermos problemas, em 30 a 60 dias, o projeto executivo estará pronto”, frisou o diretor-presidente da Consol, Maurício de Lana.
O projeto executivo será o sinal verde para a trincheira, que, assim como o viaduto, fará a ligação entre os bairros Itapõa e Santa Branca, na Pampulha.
Entretanto, para que a estrutura torne-se realidade, é preciso saber quem irá erguê-la. Em negociação no ano passado com o MPE, a Cowan informou que somente iria assumir a responsabilidade pela construção após a apresentação do projeto final.
Dentro do previsto
As etapas para a construção da trincheira seguem dentro do previsto, de acordo com o promotor de Defesa do Patrimônio Público, Eduardo Nepomuceno. Ele destaca que, mesmo com a apresentação do projeto básico, ainda é preciso o detalhamento e a definição dos preços para que a Cowan decida se irá construir a trincheira, ou não. “É preciso colocar um preço e detalhar o projeto. A partir daí, iremos discutir com a Cowan os próximos passos. Precisamos aguardar a Sudecap agora”.
Investigações
Pela segunda vez, o delegado Hugo e Silva pediu à Justiça a dilatação do prazo das investigações. Na primeira solicitação, a entrega foi adiada de 3 de agosto para 10 de dezembro, ou seja, por mais de quatro meses.
A assessoria de imprensa da Polícia Civil ainda não informou qual é a nova data para finalização dos trabalhos.
Mesmo sem o término do inquérito, a corporação já apontou possíveis causas da tragédia. A redução na quantidade de aço utilizada na estrutura da obra do viaduto Batalha dos Guararapes foi confirmada em laudo técnico do Instituto de Criminalística.
Depois do fim das investigações, o caso seguirá para análise da Justiça. Os indiciados responderão por dois homicídios culposos e 23 lesões corporais.
Seis meses após a tragédia, Analina Soares Santos, de 52 anos, mãe da motorista Hannah Cristina, de 25 anos, morta no acidente, aguarda o fim das investigações para conseguir a justiça que tanto almeja. “Quero saber quem são os culpados dessa desgraça para a nossa família”, desabafa.
Com o falecimento de Hannah, a filha dela, Ana Clara, de 6 anos, precisou de acompanhamento psicológico. Há cerca de um mês, a menina, que morava com a avó, teve a guarda transferida para o pai. “A filha dela, que convivia com a gente, hoje está afastada. Isso têm nos deixado muito tristes”, afirmou Analina.
Mesmo sem a decisão judicial, a Cowan arcou com o tratamento de Ana Clara e da cobradora do micro-ônibus, Débora Nunes, que teve parte da mandíbula afetada na tragédia.
“Eles assumiram o compromisso feito conosco. O depósito para o tratamento da Débora foi realizado na semana passada. Também houve a substituição do veículo no ano passado”, contou o marido de Débora e irmão de Hannah, Tiago Carlos dos Santos, de 28 anos, que agora dirige o veículo.
O micro-ônibus esmagado na queda do viaduto era o meio de sustento da família de Hannah. Cerca de um mês após a tragédia, eles entraram na Justiça requerendo um novo veículo, além dos valores que deixaram de ganhar nos dias não trabalhados.
Os compromissos cumpridos, entretanto, não diminuem a dor da família, destaca Tiago. “Minha mãe, principalmente, está sofrendo muito. O que a gente quer é que seja feito tudo dentro da lei e que os culpados sejam penalizados e paguem por esse erro”, afirma.
Mais dor
O encarregado de obras Charlys Frederico Moreira do Nascimento, de 25 anos, foi a outra vítima do desabamento do elevado. O Fiat Uno que ele dirigia foi prensado por uma carga de 2.500 toneladas. O pai de Charlys, Juarez Moreira de Melo, também acionou a Justiça como objetivo de pedir indenização.