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Coluna – Não existe mais demissão de treinador no futebol brasileiro?

Em uma tentativa de minimizar as constantes trocas de treinadores por parte dos clubes no Campeonato Brasileiro, a CBF resolveu colocar um item no regulamento que permite apenas uma mudança ao longo da competição. Quem quiser mudar a segunda vez, por exemplo, precisa efetivar o auxiliar permanente, sem a possibilidade de buscar outro profissional mais experiente no mercado da bola. Tudo por imposição, nada discutido com os interessados.

A medida, no mínimo, é totalmente sem sentido. A entidade máxima do futebol brasileiro tem o direito de interferir na administração dos clubes? Como pode uma equipe não ter o direito de contratar e demitir funcionários por causa de interferência externa? Mas não houve polêmica e ninguém se insurgiu contra a CBF. Porém, os dirigentes encontraram uma fórmula de burlar essa decisão.

No item do regulamento consta que, em caso de comum acordo, o clube pode mudar o treinador quantas vezes quiser. Não pode demitir, mas, com jeitinho, pode trocar caso as duas partes concordem que a saída do profissional era algo inevitável. Entendeu? Claro que não! Mas pouco importa. Esse jogo de cena acontece sempre no mundo da bola.

Com essa situação estranha criada pela CBF, as demissões de treinadores rarearam. E o comum acordo passou a vigorar em grande escala no futebol brasileiro. Ninguém mais é demitido. Se está bom para o treinador, e está melhor ainda para o clube, vale tudo.

Na Série A do Campeonato Brasileiro, por exemplo, o Grêmio já foi comandado por Tiago Nunes, Felipão e, agora, a bola da vez é Vagner Mancini. Nenhuma demissão. Tudo comum acordo.

O Bahia iniciou o Brasileirão com Dado Cavalcanti, passou pelo argentino Diego Dabove e agora, na reta final, o comandante é Guto Ferreira. Claro que ninguém foi demitido. Os antecessores saíram em comum acordo.

Até na Série B, a Segunda Divisão do futebol nacional, o comum acordo virou moda. O gigante adormecido Cruzeiro iniciou a competição com Felipe Conceição. Não aprovou e trocou, em comum acordo, por Mozart. Mas esse também foi descartado, com anuência das duas partes, claro, para a chegada do consagrado Vanderlei Luxemburgo. E tudo com a aprovação da CBF, que acredita que ninguém foi demitido e que sua sábia decisão vem sendo respeitada.

Mas, se pensou em impedir os clubes de demitirem treinadores em grande escala, e acredita que conseguiu, a CBF não fez o mesmo com os técnicos. Eles podem pedir demissão, a qualquer momento, pulando de equipes por salários e prêmios mais atraentes. E segue valendo tudo.

Veja o caso de Vagner Mancini. Chegou ao América-MG para substituir Lisca, que saiu por comum acordo. Estava fazendo grande trabalho, mas pediu demissão para aceitar proposta milionária do Grêmio. Foi embora de Belo Horizonte sem pensar duas vezes e chegou com fama de salvador da pátria em Porto Alegre. Tudo com a anuência da CBF. Ele pode sair quantas vezes quiser, mas o clube não demitir quantas vezes quiser o treinador. Muito esquisito.

Enquanto esse jogo de cena é feito por clubes e CBF em relação aos treinadores, algo muito mais importante vem sendo deixando de lado: o calendário do futebol brasileiro. As equipes, mesmo desfalcadas de seus principais jogadores, seguem jogando na Data Fifa (quando as seleções estão em ação). E ninguém consegue solucionar esse problema. No mundo inteiro o futebol para quando as seleções estão em campo. Menos no Brasil.

Em 2022 teremos Copa do Mundo nos meses de novembro e dezembro, e até agora a CBF e os clubes não chegaram a um denominador comum em relação ao calendário da próxima temporada. Como adequar tantas competições (estaduais, Copa do Brasil, Libertadores, Sul-Americana, Campeonato Brasileiro, Mundial de Clubes, etc) e conseguir encerrá-las antes do pontapé inicial no Mundial do Catar? Ainda ninguém sabe! Bagunça à vista! Podem acreditar!

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