Opinião

A política além dos partidos de direita e esquerda

5 Min leitura

por: Rabino Samy Pinto

Não é raro que no cenário político haja mudanças de poder. Atualmente, se vê em alguns países, como um pêndulo, a governança ir da esquerda para a direita, como no caso da vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, e em outros casos até mesmo começar a seguir um novo rumo, o centro começa a chamar cada vez mais a atenção, a exemplo da ascensão de Emmanuel Macron, na França. Toda essa movimentação causa nos partidos desses países um profundo questionamento sobre as posições ideológicas adotadas por eles e como essas escolhas refletem na sociedade.

Quando se analisa o quadro político, econômico e social da Europa, por exemplo, se enxerga um continente em crise e, em alguns pontos, beirando a falência. Não é difícil constatar, ao conversar com europeus de países com origem histórica socialista, que aquele modelo utópico de governo foi praticamente destruído pelos fatos históricos.

Ao trazer esse debate para o Brasil, muitos historiadores e filósofos têm dito que o país acabou de acordar, com um certo atraso, para a conversa sobre a direita e a esquerda. As discussões políticas e econômicas vem tomando um tom mais exacerbado, mais agressivo, já que temos uma esquerda e direita que gritam, mas que parecem não apresentar ideias concretas sobre governar. Suas vozes se tornam apenas artifícios para obter o poder.

O Brasil hoje testemunha políticos que somente identificam os problemas apontados pela sociedade, e em alguns casos até mesmo por um seleto grupo dentro dela, e fazem usos de qualquer cartilha, seja direita ou esquerda, para pegar a frustração da população e alcançar o poder. O filósofo, José Ortega y Gasset, descreve uma situação que ocorre em países que vivenciam um “boom”econômico, com destaque para os que utilizam o modelo capitalista, que é o declínio intelectual que traz graves consequências à nação. Na descrição do filósofo, o crescimento expressivo leva a um delírio que causa uma queda intelectual das pessoas, que se preocupam apenas em enriquecer. Nesse momento, surgem os pseudo intelectuais e uma crise de valores muito grande, devido à busca por ganhar dinheiro fácil e de forma ilícita. A moral fica inexistente, a corrupção domina e, como consequência, a economia sofre. Tudo começa com um declínio intelectual, que leva a um declínio moral e de valores, findando em um declínio econômico.

Em via de regra, numa sociedade, tem aqueles que produzem riqueza – eles sempre são a minoria – e o a maioria trabalhadora. As comparações entre o rico e o pobre despertam frustrações nos homens que os políticos usam para obter o poder. E isso não só no Brasil, é no mundo inteiro. Era preciso, desde o início, trabalhar de forma harmônica com as realidades existentes dentro de uma nação, não é preciso ser rico para ser feliz. Esse ponto nunca foi trabalhado. A mente humana foi possuída por essa sensação de necessidade de riqueza, então a voz da esquerda, que se levantou na história, era para trazer justiça a essa questão.

As vozes da esquerda normalmente recolhem todas as frustrações da sociedade, seja sobre a distribuição de riqueza, seja pela intelectualidade e escolaridade, dos direitos do instinto sexual, social e gastronômico. O ponto determinante em que esse caminho falha é que, quem assume o poder geralmente está distante daquele ser filosófico, do intelectual que Platão idealizou para a política, na Grécia antiga. A política acaba sendo para os oportunistas que têm a habilidade de identificar os problemas, recolher essas decepções e criar a ilusão de que conseguirão resolver os entraves de uma nação inteira.

Nessa situação, é importante resgatar pensadores que, assim como Platão, enxerguem a política e o governo como ferramentas para dar uma vida digna para as pessoas. E no caso, dar uma vida digna é garantir a liberdade da população.

Na Europa, atualmente, socialistas franceses já pensam em fazer congressos para rever suas posições, assim como no Brasil o próprio PT (Partido dos Trabalhadores), que é a principal voz da esquerda brasileira, também está revendo o seu caminho. Essa reflexão ganha grande e positiva importância, visto que os partidos de esquerda geralmente são doutrinários, não mudam os princípios, mas maquiam os fatos. Quando Karl Marx e outros pensadores criticaram o capitalismo, eles o fizeram de forma intelectual. Foi feito um diagnóstico circunstancial de momento da época, que por si só não vingou no período.

Então, qual a função do governo no cenário atual?

Como um crítico aguçado, Karl Marx dizia que as pessoas e os filósofos, estão a compreender o mundo, mas não estão transformando o mundo. A transformação é parte, o cerne da educação. Ao educar o indivíduo e criar famílias sólidas, se constrói uma nação que caminha na direção certa.

Com esse pensamento em mente, não basta apenas entender o mundo, mas começar a transformá-lo, e educar seria ensinar o homem a decidir o que é bom e o que é ruim, tomar conta de si mesmo e ser responsável por sua própria vida, e não esperar sempre direitos sociais para cuidarem deles. Se deve olhar para os regimes na Europa e entender que essa dependência do Estado só levou a um rombo nas contas, na economia, refletindo na sociedade posterior na forma de um aumento de desemprego muito grande. Então, o governo deve seguir por este caminho educacional, garantindo a liberdade ordenada às pessoas.

A história está trazendo que a região do centro, o liberalismo, é o melhor para a própria visão do homem. As ideias comunistas e de extrema esquerda, a história já colocou para escanteio, mas não se pode deixar de levar em consideração as críticas que todos esses pensadores proporcionaram para melhorar e aperfeiçoar as ideias do liberalismo.

O Brasil recentemente descobriu que existe essa discussão de direita e esquerda, mas ela já terminou desde 1989, quando quebrou o muro de Berlim. O país precisa hoje de governadores que saiam desse pseudo-intelectualismo, desse vício do uso de falas de nichos que estão frustrados só para ganho do poder. A população deve procurar personagens que pensam em dar vida digna para as pessoas, para que todos possam ter autonomia, iniciativa e responsabilidade, esses valores liberais que estão muito mais afinados com a própria essência do ser humano.

Sobre Rabino Samy Pinto:

O Rabino Samy Pinto é formado em Ciências Econômicas, se especializou em educação em Israel, na Universidade Bar-llan, mas foi no Brasil que concluiu seu mestrado e doutorado em Letras e Filosofia, pela Universidade de São Paulo (USP). O Rav. Samy Pinto ainda é diplomado Rabino pelo Rabinato chefe de Israel, em Jerusalém, e hoje é o responsável pela sinagoga Ohel Yaacov, situada no Jardins também conhecida como sinagoga da Abolição.

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