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O mundo do trabalho e a política

Tive a grata satisfação de ver realizada a tese de Antonio Gramsci que diz “a hegemonia nasce na fábrica”, ou como o movimento sindical pode (e deve se transformar) numa escola de formação. Na última quinta-feira (dia do feriado de Corpus Cristi), o Sindicato dos Metalúrgicos de Pernambuco realizou na Guabiraba um grande encontro de delegados sindicais preparatório para as eleições da próxima diretoria da casa. O que mais me chamou a atenção foi o foco de interesse daqueles operários na Política (estadual e nacional), entendendo eles que não é possível formular uma agenda sindical, por reposição salarial e outras questões, sem fazer uma discussão profunda sobre a economia e a política do país. E como participaram animadamente dessas discussões!

Primeiro, se levantou a questão da grave crise representação política que hoje vive o Brasil, com o predomínio das corporações econômicas, religiosas e de vários matizes e interesses sobre o mandato popular. O que, por si só, desautorizaria a prerrogativa legiferante do chamado Poder Legislativo em legislar em benefício do povo. Grande parte dos nobres deputados e senadores, alvo da operação Lava Jato, legisla hoje em causa própria ou em benefício de seus patrocinadores de campanha, numa espécie de destruição do instituto da representação política, que devia ser universal ou a serviço do interesse publico, republicano. Não a favor de bancos, frigóricos, igrejas, empresas, agro-exportadores etc.

Segundo, a grave crise de representação vem contribuindo a passos largos para a “desinstitucionalização da política”, fazendo com que ela saia do parlamento, dos partidos, do voto popular nas eleições, e caminhe para as ruas, praticando um tipo de “jus esperniandi”, uma atitude de indignação, revolta contra o desvirtuamento anti-republicano das instituições do país.

Terceiro, estaríamos diante de uma modalidade de “Estado de exceção”, com aparência democrática, onde um governo ilegitimo, antipopular, a serviço do mercado, procura utilizar o cargo e seus aliados, no Congresso, para obstrução da Justiça. criminalizando e reprimindo as manifestações da sociedade civil contra si. Até as tropas do Exército Nacional foram requisitadas pelo Poder Executivo para impedir a liberdade de manifestação dos cidadãos e cidadãs indignados.

Quarto, crise na relação inter-institucional entre os Poderes, sobretudo entre o Judiciário e o Legislativo. O mau ativismo judicial, praticado pelos ministros que tomaram partido pelos políticos, abriu as portas para a desmoralização do Judiciário, fazendo com que os deputados e senadores escolham a decisão que querem obedecer ou aceitar. A partidarização do Poder Judiciário colabora para perda de credibilidade dos ministros dos tribunais superiores. E instauram, no país, um clima de grande insegurança jurídica.

Quinto, o fim do ciclo político e a novidade das greves de trabalhadores no Brasil. Este sim o fato novo na política brasileira, depois de atrelamento do movimento sindical.

MICHEL ZAIDAN

Cientista político da UFPE

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