Política

Delator diz que Pimentel esteve em reunião de repasse de propina a empresário

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Delator da Operação Lava Jato, o contador Roberto Trombeta afirmou aos procuradores da República que o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), estava na residência do dono do Grupo Caoa, numa reunião, em agosto de 2014, em que lhe foi solicitado a participação no repasse de R$ 3 milhões, em espécie, para o empresário Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, dono da Gráfica Brasil.

“Chamou a atenção do declarante Roberto Trombeta haver avistado no interior daquela residência a pessoa de Fernando Pimentel, então candidato ao governo de Minas Gerais, não mantendo contato com o mesmo além do visual”, contou Trombeta aos procuradores da República, em Curitiba, nos autos da Lava Jato.

Bené, como é conhecido o amigo de Pimentel, está preso desde abril, como operador de propinas do petista. Os dois foram denunciados na Operação Acrônimo pelo recebimento de valores ilícitos do Grupo Caoa. Foi identificado o repasse de R$ 2 milhões para empresas de Bené, que teriam o governador e sua campanha como beneficiários – valor esse também citado por Trombeta como um “repasse oficial”.

Encontros

Trombeta narrou três encontros com Bené e executivos da Caoa, entre julho e agosto de 2014, para tratar do repasse dos R$ 3 milhões ao amigo de Pimentel. Detalhou ainda as datas e as circunstâncias de entregas das notas na sede da empresa.

“Em reunião na casa do controlador do Grupo Caoa, Dr. Carlos Alberto Oliveira Andrade, convocada pelo presidente sr. Maciel Neto, soube o declarante Roberto que a Caoa pagaria, diretamente ao senhor Benedito Rodrigues de Oliveira, a importância de R$ 3 milhões em dinheiro”, afirmou Trombeta. Essa reunião teria ocorrido em agosto de 2014. “Este pagamentos seriam feitos semanalmente na sede do Grupo Caoa.”

O primeiro dos três encontros narrado pelo delator teria ocorrido em julho. “O declarante Roberto Trombeta foi chamado para uma reunião a pedido do presidente do Grupo Caoa, sr. Antonio Maciel Neto. Nesta reunião foi apresentado a Benedito Oliveira.” O delator diz que o executivo da Caoa “solicitou ajuda” para uma “demanda que posteriormente lhe seria explicada”.

O segundo encontro teria ocorrido em 6 de agosto no escritório de contabilidade de Trombeta, em São Paulo. Foi após esse encontro que Trombeta diz ter ocorrido a reunião na casa do controlador da Caoa, em que ele diz ter visto Fernando Pimentel. O delator conta que “por motivo de sigilo na empresa”, ele e seu sócio Rodrigo Morales foram incumbidos de destacar um funcionário de seu escritório de contabilidade para “retirar certa ‘encomenda’ no departamento financeiro (da Caoa) e que a entregasse ao representante” indicado por Bené. Os valores teriam sido repassados para um emissário de Bené, que ia na sede da Caoa, e pegava o dinheiro das mãos de um funcionário do escritório de Trombeta – que se deslocava ao local com essa única função.

Segundo Trombeta, foram quatro repasses de R$ 500 mil nos dias 22 de agosto, 5, 19 e 25 de setembro. “O restante do valor acordado entre o presidente do Grupo Caoa sr. Antonio Maciel Neto e o sr. Benedito Oliveira não foi pago em razão da prisão do sr. Benedito no dia 7 de outubro.”

Em outubro de 2014, Bené foi detido com R$ 116 mil em espécie chegando ao aeroporto de Brasília, em um jatinho particular. Ele acabou sendo liberado. O criminalista Antonio Figueiredo Basto, que defende Trombeta e seu sócio Morales, disse que não comentaria o caso.

Acrônimo

Bené já confessou que atuou em nome de Pimentel em delação premiada, no processo da Operação Acrônimo. Segundo ele, o Grupo Caoa teria feito ao todo o repasse de R$ 20 milhões para o governador, entre 2013 e 2014. Pelo menos R$ 7 milhões teriam ido para contas no exterior do petista e o restante abastecido campanhas.

Outro lado

A defesa do governador de Minas, Fernando Pimentel (PT), afirmou desconhecer a acusação do contador Roberto Trombeta. “É fundamental registrar, antes de qualquer observação, que o referido sr. Roberto Trombeta é acusado pelo Ministério Público Federal de mentir e ocultar documentos prometidos por ele na negociação do acordo de delação premiada no âmbito da assim chamada Operação Lava Jato. Por esta razão, a delação pode ser anulada. Como a defesa de Fernando Pimentel, que não é investigado na referida operação, desconhece por completo os assuntos narrados, só pode se basear nas informações repassadas pela reportagem, que não deixa sombra de dúvida: nada do que foi relatado liga Pimentel a essas supostas tratativas. Nada a não ser a palavra de alguém que é acusado de mentir em sua delação. Nada além de ‘ter avistado’ alguém que poderia, em sua avaliação, ser Fernando Pimentel em um desses supostos encontros”, diz o advogado Eugênio Pacelli.

Em nota, a Caoa negou as acusações. “A Caoa desconhece a existência e eventual conteúdo das delações premiadas de Roberto Trombeta e seu sócio Rodrigo Morales que lhe faça qualquer menção, sendo curioso que tal suposta informação, coberta por sigilo legal, venha parcialmente ao conhecimento público, sem possibilidade prévia da empresa saber e contrapor os seus termos”, diz a nota.

“A Caoa sempre desenvolveu suas atividades com recursos de origem lícita e privada, dentro e fora do Brasil e, ademais, desconhece os negócios e as empresas de Trombeta e Morales no exterior, as quais não fazem ou fizeram parte dos negócios da Caoa . A Caoa repele com veemência qualquer irregularidade”, conclui o texto. As informações são do jornal “O Estado de S. Paulo”.

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