Três dias após retirar seu apoio ao pré-candidato Paulo Brant, o prefeito Marcio Lacerda (PSB) disse que deve um pedido de perdão ao economista pela forma como Brant ficou sabendo das mudanças. “Eu devo desculpas a ele”, afirmou Lacerda nesta segunda-feira (8), em entrevista a O TEMPO.
Segundo Lacerda, o que motivou a retirada da pré-candidatura de Brant foi o fato de o executivo ter cinco processos no Banco Central. “Em um pagou a multa e o outro ele parcelou. Nosso advogado quando estava ajudando ele a organizar a vida para ser candidato, (…) achou um extrato desse assunto e mostrou pra ele e ele disse: ‘isso aí é bobagem, não tem problema, já paguei a multa’. Então, nem ele, nem eu, nem o advogado nos aprofundamos no assunto. Eu soube, mas ninguém me falou: ‘tem uma decisão do Banco Central que o torna inabilitado para dirigir instituição financeira por nove anos’. Não vejo isso como um problema na vida dele. Eu, pessoalmente, o nomearia na prefeitura, ou em qualquer empresa. O problema é que isso em uma campanha seria mortal”.
De acordo com o prefeito, Brant sabia que ele se reuniria com o senador Antonio Anastasia (PSDB) na sexta-feira, em reunião em que iria propor que o economista fosse o cabeça de chapa com o João Leite de vice. “Isso, naturalmente, não foi aceito pelo PSDB, que propôs o contrário. Aí discutimos a possibilidade de terceira via. O Délio foi citado, a Luzia Ferreira, pensamos em outras pessoas do próprio PSDB, mas achamos que não tinham viabilidade. Porque também o Paulo sempre soube que existia a possibilidade de fazermos uma confluência em torno de um outro nome. Embora ele dissesse que não gostaria de ser vice”, explicou Lacerda.
Em entrevistas a O TEMPO, na última sexta-feira e também no domingo, Brant lamentou a forma como tudo aconteceu, ressaltando que Lacerda não teve “a dignidade” de procurá-lo para dar a notícia do fim da candidatura. Segundo Brant, o prefeito enviou três intermediários para dar o recado. “Ele tem toda razão, fora as circunstâncias expliquem, assim como eu ficaria muito chateado por isso. Eu devo desculpas a ele”, admitiu Lacerda.
“O que aconteceu, naquele momento ali de seis, sete horas da noite, todo mundo em polvorosa, a decisão é ‘não dá para continuar com a candidatura, vamos procurar o Délio’. Imediatamente pensamos no Délio, até pela identidade que ele tem conosco, está lá na prefeitura há quatro anos, secretário, uma pessoa de bem, experiente, político, que conhece a prefeitura, tem sido elogiado até nos programas do PSD. Foi uma decisão unânime. Tinha que reunir os advogados para ajustar as atas, pegar as assinaturas, o prazo era meia noite”, justificou Lacerda.
Veja a entrevista na íntegra:
O que motivou a retirada da candidatura do Paulo Brant?
Ele tem cinco processos no Banco Central. Em um, pagou a multa e, no outro, parcelou. Nosso advogado quando estava ajudando ele a organizar a vida para ser candidato, o que tem de atividades que conflitem com eleição (como) participação em conselhos, etc. O advogado pesquisou na internet e achou um extrato desse assunto e mostrou pra ele e ele disse: ‘Isso aí é bobagem, não tem problema, já paguei a multa’. Então, nem ele, nem eu, nem o advogado nos aprofundamos no assunto. Eu soube, mas ninguém me falou: ‘Tem uma decisão do Banco Central que o torna inabilitado para dirigir instituição financeira por nove anos’. Não vejo isso como um problema na vida dele. Eu, pessoalmente, o nomearia na prefeitura, ou em qualquer empresa. O problema é que isso em uma campanha seria mortal. O assunto, eu, definitivamente, não sabia. Tanto que à medida que os partidos foram abandonando a nossa aliança eu disse: ‘vamos prosseguir mesmo que seja só o PSB, com 45 segundos em 10 minutos’.
O que aconteceu na sexta-feira em que foi tomada a decisão?
Eu o chamei lá em casa cedo e conversamos assim: ‘Você está firme mesmo, vamos em frente, eu vou colocar todo meu limite de 10% na renda na sua campanha, mobilize também os seus amigos, a sua família porque isso é o problema mais sério no momento’. Fomos fazer uma reunião de 12, 15 pessoas, de organização de campanha. Ele, Roberto Brant, o irmão (do Paulo Brant), eu dirigi a reunião, chegou um telefonema no meio da manhã, do Alexandre Silveira, sugerindo uma reunião com o Anastasia.
O Anastasia que procurou pelo senhor?
O Alexandre que intermediou. Não fui eu que pedi. Eu falei na reunião com a presença do Paulo Brant e do Roberto, que eu iria para uma reunião com o Anastasia 11h30, que eu iria propor lá que ele (Brant) fosse o cabeça de chapa com o João Leite de vice. Isso, naturalmente, não foi aceito pelo PSDB, que propôs o contrário. Aí discutimos a possibilidade de terceira via. O Délio foi citado, a Luzia Ferreira, pensamos em outras pessoas do próprio PSDB, mas achamos que não tinham viabilidade. Porque também o Paulo sempre soube que existia a possibilidade de fazermos uma confluência em torno de um outro nome. Embora ele dissesse que não gostaria de ser vice. Então, no começo da tarde, ele já não estava mais lá, o advogado me procurou e falou: ‘Marcio, acho que tem que aprofundar aquele assunto, eu falei: ‘Qual assunto?’, e ele disse: ‘O do Banco Central’. Eu perguntei se ele tinha o documento (processo), ele disse que não, porque era segredo de Justiça e que o que tinha público era só um resumo. Nosso advogado ligou para o advogado dele e, às 17h29, chegou o processo. Então, a conclusão que a gente chega olhando a entrevista no O TEMPO é que ele provavelmente não sabia desse assunto.
Qual a diferença de ele ter recebido uma multa ou ter recebido uma punição?
O problema dessa punição é que você chega em uma campanha para apresentar uma pessoa, com enorme experiência de gestão, não importa se o assunto foi 20 anos atrás, que ninguém foi preso por isso, mas (diriam): ‘Espera, o seu candidato é o da gestão, mas como ele explica isso?’ Isso seria mortal em uma campanha.
Por que não foram atrás desse documento antes?
Por que que o avião caiu? São múltiplas causas. É uma cadeia de erros, falhas que levam a um problema dessa gravidade. É realmente um drama e trauma político e pessoal, como foi o rompimento do PT comigo em 2012, para mim foi um trauma pessoal e político. Falei que era o melhor candidato por isso, isso e isso. Com 45 segundos em dez minutos, como nós vamos explicar isso? Três minutos já seria praticamente impossível. Em 45 segundos, esquece, adeus campanha.
Ele disse que o que mais o magoou foi a forma como a coisa aconteceu. E que o senhor não disse a ele pessoalmente da saída dele da disputa. Foi assim?
Ele tem toda razão, mesmo que as circunstâncias expliquem. Assim como ele, eu ficaria muito chateado por isso. Eu devo desculpas a ele. Naquele momento ali de 18h, 19h, todo mundo em polvorosa, a decisão é: “Não dá para continuar com a candidatura, vamos procurar o Délio’. Imediatamente pensamos no Délio, até pela identidade que ele tem conosco, está lá na prefeitura há quatro anos, secretário, uma pessoa de bem, experiente, político, que conhece a prefeitura, tem elogiado até nos programas do PSD. Foi uma decisão unânime. Tinha que reunir os advogados para ajustar as atas, pegar as assinaturas, o prazo era meia noite.
Mas candidatura pode ser registrada até o dia 15?
Isso é algo que se divulgou, mas não é verdade. Se conversar com qualquer advogado vai ver. No passado fazia-se isso porque não tinha que documentar alguma coisa até o dia 5. Então, muita gente se aproveitava disso pra mudar a ata (da convenção) até o dia 15, mas quando era descoberto, era considerado fraude e gerava punição. Não era legal. Nós nunca correríamos esse risco porque não seria aceito, principalmente numa candidatura para prefeito. Então eu saí atrás de resolver a questão da nova aliança. O Délio tinha que comunicar o vice dele (o advogado Benjamim Rabello (PSD)), nós tínhamos que fazer a mesma coisa. Os advogados tinham que se encontrar antes de meia noite. Eu pedi que o Regis (seu assessor) e mais duas pessoas que estiveram com ele (Brant) fosse atrás dele. Ele poderia ter renunciado a candidatura. Isso nem precisaria ter sido divulgado. Eu não sei se ele sabe que tem essa punição. Fiquei arrasado com isso. Passei o fim de semana em depressão porque, uma pessoa com quem você conviveu esses meses todos, aliás, falo com ele há um ano. Estávamos buscando defeito nele e não achávamos. É uma pessoa do bem. Um cara puro.
O senhor se encontrou com o Anastasia. Teve alguma influência do PSDB nessa decisão?
Não. De jeito nenhum. Nós consideramos o PSDB, se não o principal, um dos principais adversários para ir para o segundo turno. A campanha, lógico que tem que ser respeitosa, mas o PSDB é nosso adversário, quero eleger Délio Malheiros.
O senhor propôs o nome do Délio ao Anastasia para que fosse o candidato do PSDB e PSB?
A primeira conversa com o Anastasia foi tentar João Leite e Paulo Brant, falamos em diversos nomes. Nos detivemos mais tempo ao nome da Luzia Ferreira (do PPS e ex-secretária de Lacerda). Porque o PPS já estava compondo com o PSDB. É um trauma. Como foi duro para ele está sendo para mim. Tenho afeto por ele. Convivemos. Agora, chegamos a isso por erros de condução tanto dele quanto nosso porque ele tinha que ter aberto isso para gente. Dizer que a pessoa está inabilitada para dirigir qualquer instituição financeira por condução incorreta, na situação que nós vivemos hoje, e volto a dizer isso para mim, moralmente, dada a situação política da época, para mim não interfere. Talvez de fato ele não soubesse. Ele ter falado que era apenas uma multa eu chego a admitir que ele não soubesse.
Nessa conversa com Anastasia foi falado algo sobre 2018?
Todas as vezes que conversei com o PSDB sobre sucessão em Belo Horizonte, sempre foi dito: ‘Você seria uma excelente opção para 2018, como senador, governador’. E eu sempre disse que não quero subordinar a decisão de sucessão em Belo Horizonte com 2018. Meu compromisso é com a cidade. Não acredito na candidatura do João Leite. É uma candidatura perdedora. Não apoio e não apoiarei. Sempre disse isso. Até porque, ficar falando em 2018, eu não sou político de carreira. Tenho minha vida. Isso nunca me comoveu. Nunca me incentivou a fazer acordo com o PSDB. Quero o melhor para Belo Horizonte. Houve telefonema do senador Aécio Neves para mim, que como me convidou outras vezes, ele sempre disse isso: ‘Você tem que ficar no nosso grupo, você é uma opção’. Mas, eu digo que não quero misturar as coisas.
O que o Aécio sugeriu foi de o senhor apoiar o João Leite e que eles apoiariam o senhor para o governo em 2018?
Isso. Ele me fez essa proposta por telefone.
O senhor acha que o senador Aécio Neves agiu para isolar o senhor em função da sua decisão de o PSB ter um candidato próprio?
Eu sempre disse que a opção era ter um candidato adequado ao perfil que Belo Horizonte gostaria do PSDB. O candidato apoiado pelo PSDB, eu acho que ele não atende. O que aconteceu foi normal. Não pode qualificar nenhuma disputa política com adjetivo. Faz parte do jogo. Agora, o jogo político, o bom e o ruim da natureza humana está sempre aparecendo. O PRB, PDT, PTB, Solidariedade e mais um outro, eram quatro ou cinco partidos, cujas direções locais, municipais e estaduais, fecharam conosco, com a bênção de quase todos eles, da direção nacional. Eu fui a Brasília, conversei com o Roberto Jefferson (PTB), (Gilberto) Kassab (PSD), Paulinho da Força (SD), com o Lupi (Carlos Lupi, presidente do PDT) aqui, ele disse que ia indicar o vice. O PDT nacional fechou. Isso tudo foi mudado em Brasília, em cúpula, que não quero qualificar aqui. Eu, como belo-horizontino, não me sinto confortável de a eleição de Belo Horizonte ser decidida em Brasília. Hoje, está se conformando um novo centrão e o PSB está fora disso, por exclusão ou por iniciativa. Então esse ‘centrão’ tem lideranças do presidente Temer, do senador Aécio Neves e de outros presidentes de partidos.
Mas o senhor acha que o senador Aécio Neves, contrariado pela não adesão do senhor ao projeto dele, agiu dessa forma?
Eu diria que ele está protegendo o projeto dele. Não digo que ele está contrariado, mas está trabalhando para se fortalecer. E assim, eu e o PSB estamos incomodando, digamos, esse projeto dele de liderança e isso é normal num processo político. Agora, o que eu estou colocando não é um projeto de independência, mas sim protegendo, segundo meu entendimento, o interesse da continuidade do nosso modelo de administração.
O senhor acha que alguma coisa poderia ter sido diferente ou deu errado para que não tivesse essa aglutinação de mais partidos em relação ao Paulo Brant?
Houve adesão, como te falei, de cinco partidos e um a um foram saindo, não por decisão local, mas por decisões de cúpulas em Brasília, em função de grandes acordos nacionais.
Então o senhor não vê isso como uma falta de habilidade política do senhor em manter os partidos?
Não, de jeito nenhum. A demonstração que não tinha isolamento político é que nós agregamos cinco partidos. Eles foram retirados à força, por decisões tomadas em Brasília. Essa é a verdade. Se você conversar com o pessoal desses partidos aí, o caso da Elaine Matozinhos do PTB, não sei se ela vai confirmar, mas falou com todo mundo, até chorou… Eu fui no Roberto Jefferson, ele ligou para ela e disse: ‘Olha, você resolve’. Ela aderiu, escreveu nas redes sociais que estava com Paulo Brant. Ligaram para ela disseram: ‘Vamos mudar’. Liguei para ele, e ele disse: ‘Olha, um grande amigo meu do PSDB me procurou e eu não pude deixar de atender a um pedido dele’. Então, aconteceu isso.
Algumas pessoas falaram que o senhor conversou com o PMDB e que o PMDB poderia compor a chapa com o senhor. Isso procede?
Essa história é ótima. Deixa eu te contar uma novelinha bem curtinha. Me ligou, no final da manhã, não sei se foi da quarta ou da quinta-feira da semana que passou, o Roberto Brant, o irmão do Paulo. E disse: ‘Olha, eu sou muito amigo do Moreira Franco e ele está muito preocupado, porque o Eduardo Paes está ficando isolado com o candidato dele do PMDB lá (no Rio) e uma solução seria o PSB apoiar o PMDB do Rio. O PSB está cobiçado por todos os competidores lá para indicar o vice. E em contrapartida, o PMDB indicaria o vice aqui. Liga para o Eduardo Paes para vocês articularem isso’. Eu liguei para o Eduardo Paes, tenho o celular dele, nos falamos sempre, e ele falou: ‘É isso mesmo. Eu sei que nosso presidente nacional está no Rio. Ah, quero conhecer e tal. Tudo bem então, Eduardo? Tudo, vou ligar para o Temer. O Eduardo Paes ligou para o Temer, o Temer reforçou o pedido junto ao Moreira Franco. Aí o Roberto Brant tornou a me ligar dizendo que o Temer falou com o Moreira Franco, o Moreira Franco já ligou aí para o Toninho (Antônio Andrade). Eu liguei para o Toninho Andrade na manhã seguinte, ele disse que já havia chamado o Rodrigo para conversar e nós três conversarmos, isso lá em casa, no começo da tarde. Aí falei: ‘Olha, tem esse negócio do Rio, você sabe, vamos fazer uma transação, vocês indicam o vice aqui’. Aí ele disse: ‘Não, nós queremos é o contrário’. Bom, aí eu disse: “Olha gente, então não tem jeito. Eu saí e eles divulgaram esse negócio. Você não pode acreditar em tudo o que saiu no jornal’.
O Paulo Brant disse que o senhor falava de forma depreciativa do Délio Malheiros.
Quando se fala em possibilidade de candidaturas, você fala dos pontos fortes e dos pontos fracos. Toda pessoa tem pontos fortes e pontos fracos. Então, Délio Malheiros teve uma reunião conosco há duas semanas e conversamos durante duas horas, e eu falei para ele dos pontos fracos dele. Mas não posso falar. Pontos fracos assim: eu tenho várias qualidades como gestor, mas tenho vários defeitos também. Larguei várias cicatrizes para trás e coisas erradas aí. Não tem ninguém perfeito. Ele, como advogado, trabalhou na área do direito do consumidor e isso deu a ele muita projeção. Foi um bom vereador, um bom deputado, é muito interessado em fazer o bem, em trabalhar direito, e esses quatro anos na prefeitura, ele conhece a cidade, conhece a prefeitura, foi secretário de Meio Ambiente. Agora, ele poderia ter feito mais? Poderia, como qualquer um de nós. E isso, eu sou muito franco nessas avaliações e falo para a pessoa. Agora, infelizmente, o Paulo Brant está com o fígado muito atingido.
O senhor gostaria de comentar a declaração que o Paulo Brant deu, de que o senhor teria um caráter frouxo.
Não, todos nós temos defeitos.
O senhor acha que fica um desgaste para o senhor?
Sempre fica, até porque são muitas versões. Mas eu já tive outros desgastes na administração.
Mas o senhor se arrependeu da forma como foi feito? Talvez se tivesse falado antes com ele?
Na realidade, eu não tive tempo. Eu estava correndo ali para viabilizar a aliança, foi assim no estresse. Realmente, eu errei e pedi perdão e desculpa para ele.