O prefeito Marcio Lacerda apresenta sua versão para o rompimento da aliança que culminou com a eleição dele, em 2008. No próximo domingo, Lacerda lança Paulo Brant, presidente da Cenibra e ex-secretário de Cultura, para a corrida pela PBH.
Quando o senhor decidiu ter um candidato e escolher o nome do Paulo Brant?
Vou voltar um pouco antes. Em 2008 foi o momento político especial do país. Tínhamos acabado de sair da crise do mensalão com a reeleição de Lula. Havia um debate sobre o modelo de alianças que levaram a determinados fatos que geraram aquela crise. Aqui em BH foi um laboratório que algumas lideranças tentaram, no sentido de criar uma convergência, um novo tipo de aliança no país, levando forças de centro-esquerda a se unirem. Naquela formulação de aliança participava, além de Aécio e Pimentel, Eduardo Campos, Ciro Gomes, inclusive com a bênção do Lula. Então, foi um momento de uma tentativa de convergência que se extinguiu em 2012. Naquele momento, em 2012, a verdade é que os dois polos não queriam a continuidade da aliança. O terceiro polo, que era o PSB, queria a continuidade. Batalhei por ela até o último instante.
O que gerou o rompimento?
Queria comentar isso porque a versão atual é a de que eu teria rompido com o PT. E agora estaria rompendo com o PSDB. A aliança não prosseguiu porque o PSB e o PSDB não aceitaram a aliança proporcional para vereadores com o PT. Já havíamos aceitado a aliança majoritária. O rompimento foi por parte do PT, que não aceitou a não coligação para vereadores. E, neste momento, há a versão de que eu estaria rompendo com o PSDB. Nesta experiência de oito anos, relativamente bem aprovada pela população até hoje, entendemos, inclusive fazendo muitas pesquisas, que a população quer resultados. Ao perguntar à população que tipo de pré-candidato ela gostaria de ter, entendemos que a população queria, em primeiro lugar, além de uma ficha limpa, uma boa experiência de gestão, combinada, de preferência com alguma experiência política na atividade pública. E uma experiência na atividade privada também seria muito bem vinda. Nós, desde o começo desta discussão, procuramos dizer ao PSDB que a nossa prioridade seria uma aliança em torno de um candidato do PSDB.
Do PSDB?
Sim, apesar da direção nacional do PSB dizer que gostaria que tivéssemos um candidato do PSB que fosse viável. Nas discussões com o PSDB tínhamos combinado, desde o final do ano passado, em dezembro, especificamente com o senador Aécio Neves, que faríamos logo após o carnaval um processo de avaliação de pré-candidatos onde eu indicaria quatro e o PSDB quatro para uma avaliação e pesquisas qualitativas. Apresentamos quatro nomes. O PSDB apresentou quatro. Nas discussões com o PSDB entendíamos que alguém com o perfil do Wilson Brumer (com experiência pública e no setor privado) seria o ideal. Mas infelizmente ele foi abordado diversas vezes e sempre, de maneira muito firme, não manifestou interesse. Nesta dificuldade em trazer o Brumer – sempre achei que era um excelente nome para a convergência – pensando em alguém que tivesse esse perfil, me lembrei do Paulo Brant que já conhecia desde a época em que ele era diretor do BDMG. Conversei com ele no mês de agosto, setembro e o convidei a se filiar ao PSB para o PSB ter alguém com perfil adequado.
“No final d e março, sugerimos ao PSDB que filiasse o Délio para ser o nosso candidato. Apesar de acreditar que Paulo Brant seria o melhor candidato, eu propus e estava determinado a apoiar. E não foi aceito”
Ele entrou na lista dos quatro?
Ele entrou nesta lista. Já no final do ano eu comuniquei esta presença do Paulo Brant no PSB.
Paulo Brant tinha filiação partidária?
Ele era historicamente filiado ao PSDB. Mas, como ele era do Banco de Desenvolvimento, tinha simpatias por aquela postura modernizadora do PSDB na economia, na administração. Também tive, durante uma época, muita simpatia pelo PSDB, até meados do mandato do Fernando Henrique. Outro aspecto interessante do Paulo Brant, além de engenheiro civil formado, economista, professor de pós-graduação em economia, trabalhou três anos no antigo Ministério da Indústria e Comércio. Tem experiência de Brasília, que acho fundamental para um prefeito. Trabalhou como secretário de Cultura, Banco de Desenvolvimento, etc.
O PSDB nunca levou o nome dele?
Não. Então, colocamos os nomes, no início do ano, para pesquisa qualitativa. Dos oito nomes colocados, quatro, por sugestão do marqueteiro Paulo Vasconcelos, não teriam uma aceitação adequada do eleitorado para continuar no aprofundamento da pesquisa. Restaram quatro. A próxima etapa seria aprofundar nestas pesquisas. Aí, houve uma reação dentro do PSDB, liderada por um dos dirigentes que não aceitava a continuidade do processo. Me comunicaram que o candidato seria o João Leite.
Ele estava na lista dos quatro que sobraram?
Estava. Ou seja, não admitiram a continuidade do processo. Foi colocado e me comunicaram. Eu tentei negociar de várias formas, inclusive a volta do Paulo Brant para o PSDB, isso não foi aceito e dito explicitamente porque foi indicação minha. Ou seja, não fazia questão que ele fosse do PSB, mas alguém com o perfil que a população gostaria que fosse prefeito. Essa foi a essência do problema. Então, chegamos a este ponto. Às vezes as pessoas me perguntam: por que? Acredito no modelo de gestão, acredito que conseguimos evoluir em muita coisa em nossa gestão e tenho absoluta confiança de que Paulo Brant faria uma gestão até melhor. Todas as qualitativas que fizemos demonstram que ele tem enorme potencial e nosso apoio seria importante. Não gostaria de fazer um acordo, por exemplo, baseado em possibilidade de 2018. Acho que meu compromisso é com a cidade, não com futuros cargos que poderia estar pleiteando.
O senhor tem conversado com Fernando Pimentel por apoio?
Foram plantadas várias notícias de que haveria acordo com o PT. Não há nada disto.
Por que o senhor não escolheu o Délio Malheiros?
No final d e março, sugerimos ao PSDB que filiasse o Délio para ser o nosso candidato. Apesar de acreditar que Paulo Brant seria o melhor candidato, eu propus e estava determinado a apoiar. E não foi aceito. Posteriormente, essas conversas continuaram, mas nunca houve um engajamento forte do PSDB nisso. Então, como não houve uma liderança firme do PSDB, colocamos o Paulo Brant como candidato. A partir daí o nome dele cresceu muito.
Fonte Jornal Hoje em Dia