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Quem é Antonio Anastasia, o relator do impeachment no Senado

Belo Horizonte, 05 de agosto de 2014 Imagens do ex governador do estado de Minas Gerais, Antonio Anastasia, em entrevista sobre os benefícios do Choque de Gestao para o estado de Minas Gerais Foto: Bruno Magalhaes

Conhecido pelo perfil técnico e discreto, senador tem a missão de elaborar parecer sobre a destituição de Dilma. Petistas reclamam de proximidade com Aécio Neves, de quem é afiliado político.

A maioria dos membros da comissão especial do impeachment no Senado decidiu nesta terça-feira (26/4) referendar a escolha do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) para o cargo de relator, um posto-chave do colegiado. Caberá a ele elaborar o parecer sobre a admissibilidade do processo de destituição da presidente Dilma Rousseff.

Ex-professor de direito constitucional, Anastasia, de 54 anos, é membro do grupo político do presidente do PSDB, Aécio Neves, que foi derrotado por Dilma na eleição presidencial de 2014. A relação de proximidade entre os dois remonta ao início dos anos 2000, quando Aécio o escolheu como um dos homens fortes para compor o seu governo em Minas Gerais (2003-2010). Anastasia, conhecido pelo perfil técnico, ocupou cargos como secretário de Planejamento e de Segurança.

Com um temperamento discreto, ele só disputou sua primeira eleição em 2006, aos 45 anos, sempre com a bênção do seu padrinho político. Na ocasião, foi eleito vice-governador. Em 2010, quando Aécio renunciou para disputar o Senado, Anastasia completou seu mandato e conseguiu depois se eleger governador.

Governador de Minas

À frente do governo, ele promoveu a continuidade do chamado “choque de gestão” que vinha sendo exaltado por Aécio: um ajuste das contas e a aplicação de um plano para enxugar e melhorar a eficiência da máquina pública. Houve melhorias na educação, mas críticos disseram que o “choque” também distorceu dados para disfarçar problemas no combate à criminalidade e à mortalidade infantil. A melhoria nas contas também enfrentou dificuldades. No final de 2014, o Estado registrou um déficit de 2,16 bilhões de reais.

No mesmo ano, Anastasia renunciou ao governo para se candidatar ao Senado e dedicar seu tempo à elaboração do plano de governo de Aécio, que disputava a Presidência da República. Deixou a administração com 49% de aprovação.

Sua campanha ao Senado foi a mais cara do país, com gastos de 18,3 milhões de reais. Entre os doadores estavam cinco empreiteiras (Andrade Gutierrez, UTC, OAS, Odebrecht e Queiroz Galvão) e um banco (BTG Pactual) que figuram entre os investigados pela Operação Lava Jato. Acabou sendo eleito com 56,73% dos votos.

Tucanos apontaram que era certo que Anastasia assumiria algum cargo de destaque no governo federal, como a Casa Civil, caso Aécio vencesse. No Senado, ele continuou a trabalhar em conjunto com Aécio, que é senador desde 2010.

A proximidade entre os dois gerou uma série de reclamações de setores governistas durante a indicação da relatoria. Vários petistas disseram que Anastasia não tem a isenção necessária para ocupar o cargo, lembrando ainda que o PSDB já se declarou favorável ao impeachment. Apesar das reclamações, os petistas não tinham influência suficiente para barrar o nome do relator.
Pedaladas fiscais

Após a escolha de Anastasia como relator, surgiram em blogs governistas acusações de que ele também praticou as “pedaladas fiscais” durante o seu governo. As pedaladas são a justificativa para a destituição de Dilma no pedido de impeachment que vai ser analisado pelo Senado.

As acusações citam uma ação do Ministério Público de 2015, que acusou Anastasia de ter manipulado o percentual obrigatório para gastos na área de saúde ao incluir no valor total gastos com obras de saneamento e de outras áreas. Em 2015, o Tribunal de Contas do Estado (TCE) também apontou suspeita de que Anastasia teria descumprido a aplicação constitucional de 25% do orçamento na educação.

Em sua defesa, Anastasia afirmou que as acusações não têm semelhança com as “pedaladas fiscais” de Dilma. No caso da presidente, existe a suspeita de que o governo usou bancos públicos para fazer operações de crédito disfarçadas, o que é proibido por lei. O senador afirmou que o mesmo não seria possível em Minas Gerais, já que o Estado não controla nenhum banco. Ele também citou que o TCE aprovou todas as contas do governo entre 2003 e 2014.

Lava Jato

Anastasia chegou a figurar na versão original da famosa “lista de Janot”, divulgada em março de 2015 pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e que incluia o nome de 47 políticos citados por delatores que colaboraram com a Operação Lava Jato.

Anastasia foi citado por um policial que trabalhava como entregador de propina para o doleiro Alberto Yousseff. Segundo o depoimento, o policial afirmou ter entregado 1 milhão de reais para o tucano sob ordens de Yousseff durante a campanha de 2010. Tanto o doleiro quanto Anastasia negaram a acusação. O caso acabou sendo arquivado em outubro depois de um pedido do próprio Janot, que alegou falta de provas.

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