Política

Romeu Zema, empresário e pré-candidato do Novo ao governo de Minas

10 Min leitura

Por que deixar a iniciativa privada e enfrentar uma campanha eleitoral ao governo de Minas que demanda tempo, investimento financeiro e também um certo desgaste?

Há um ano eu saí do cargo de executivo da empresa, onde fui CEO por 26 anos. Há quatro ou cinco meses surgiu o convite do Novo. A princípio, relutei, mas depois refleti e vi que já havia saído do dia a dia da empresa, que estamos num momento em que parece que o Brasil anseia por grandes mudanças, num momento também que a grande maioria dos políticos está desgastada, envolvida em escândalos e eles estão totalmente desacreditados. Pelo meu histórico, pagando impostos consegui fazer muitas coisas, recebendo impostos suponho que vou fazer muito mais.

O senhor conta com o apoio da família?

Foi uma decisão bastante discutida, mas apoiaram. Hoje estão torcendo e trabalhando bastante. Talvez até mais do que eu.

O que dá para trazer da administração privada para a administração pública?

Na administração privada você tem que ser eficiente para sobreviver. Na administração pública você não tem concorrente, você está lá e está pronto. Eu sempre falo que o empresário tem que administrar despesa e receita. Quem é do governo tem que administrar só a despesa porque a receita já está garantida por lei. Então, do meu ponto de vista, administrar um Estado é mais fácil do que administrar a iniciativa privada.

E quais as credenciais do senhor para ser candidato a esse cargo?

Primeiro, eu sou formado em administração numa boa escola. Segundo, tenho uma experiência de gestão de praticamente 30 anos. Fiz uma empresa dar certo pagando muitos impostos, num ambiente totalmente hostil para quem investe e dá empregos. Não me sinto nem um pouco menos preparado do que o nosso atual governador ou secretários. Eu estou acostumado a pegar o meu carro e conheço mais de 500 cidades de Minas. Eu queria saber se tem alguém do atual quadro Executivo que já fez isso. As cidades são próximas e a nossa forma de visitá-las e de estar junto é indo de uma por uma. Então, eu conheço muito bem o Estado. Todas essas cidades e regiões eu conheço de ir de carro e andar, de hospedar em hotéis, de comer em restaurantes locais, de negociar imóveis nessas cidades. Então, eu até considero que conheço mais do que quem está aí. Não estou nenhum um pouco para trás deles.

O senhor nunca foi filiado a nenhum partido político?

Nunca fui. Quero lembrar que a nossa empresa nunca doou um real para um vereador ou deputado, nunca participamos de uma campanha, nunca apoiamos ninguém, nada. Dentro da empresa nós sempre pregamos o seguinte: nós vamos ter a maior distância possível do Estado, fazer o nosso trabalho aqui, porque lá dentro do Estado tem alguém fazendo algo bom como nós estamos fazendo. Só que não foi o que aconteceu. O setor privado no Brasil desenvolveu muito nos últimos anos. Nós temos hoje empresas de classe mundial que exporta e consegue operar em qualquer lugar do mundo e temos uma política de quarto mundo aqui – eu nem diria que é de terceiro mundo. Então, um dos motivos para eu estar entrando é isso, precisamos mudar o que está aí.

Como o senhor avalia o atual cenário do Estado, que está com as contas no vermelho, parcelando o salário do funcionalismo…

Na minha opinião é gravíssimo e está encaminhando para se tornar pior. Existe um gráfico que demonstra quanto da receita está sendo utilizado para pagar pessoal, e esse gráfico está numa ascendência, me parece sem nenhuma tendência de reverter. Nós estamos caminhamos aqui em Minas, caso medidas não sejam adotadas, para nos transformamos no próximo Rio de Janeiro. É só uma questão de tempo, porque a preocupação do governo não é com as contas públicas, é com fisiologismo, em dar emprego para quem é do partido. Aí, a conta não fecha.

E como mudar isso? É enxugando a máquina pública?

Com toda certeza. Uma das coisas que o partido Novo quer é um Estado menor. O Estado é extremamente importante para atender o social. Nós temos pessoas carentes que precisam do Estado, mas o Estado não pode ser usado para manter partidários. Isso aí nós somos totalmente contrários.

No entendimento do senhor, qual a área de Minas que precisa de mais investimento e de ser priorizada?

Minas é um Estado que está muito ligado ao agronegócio. Eu sinto isso na pele, nas vendas das nossas lojas, já que estamos em cidades pequenas. Quando a agropecuária vai bem, as vendas vão bem; quando a agropecuária vai mal, as vendas são afetadas. E, além dessa atividade, nós temos a questão da mineração, que tem um peso importante para o Estado, e também temos empresas de tecnologia. É um conjunto de atividades que é fundamental para o Estado. Acho que nenhuma delas isoladamente vai fazer o Estado mudar por completo. Eu vejo que é dar apoio para o empreendedor, o que está no campo, o que está extraindo minério e aquele que trabalha com tecnologia.

A privatização de empresas públicas é um dos pontos que vai ser abordado pelo senhor durante a campanha?

O Estado tem que focar em educação, segurança e saúde. Se ele fizesse isso muito bem feito, a população já estaria satisfeita. Mas o nosso Estado quer entrar em outras áreas, aí entra os interesses políticos, operar empresas que não trazem nenhum benefício para a população, como a Cemig, a Copasa. Nós já tivemos aí no passado a Telemig. Alguém hoje sente falta da Telemig? Nós precisamos deixar o Estado mais focado naquilo que realmente importa para a população e não naquilo que importa para os políticos.

Já são pré-candidatos o ex-prefeito Marcio Lacerda (PSB), o ex-presidente da Assembleia de Minas Dinis Pinheiro (PP), e o atual governador Fernando Pimentel (PT). Todos eles têm experiência na política. O intuito do senhor é se apresentar como outsider? E como o senhor avalia esses nomes?

São nomes que eu respeito, todos eles têm seu mérito. Mas não me considero pior do que ninguém. Uma coisa que eu gostaria de falar é que a nossa empresa nunca teve contrato com o Estado. Nós crescemos por competência própria, pagando impostos e sendo fiscalizados. Se tem algo que nos causou transtorno até hoje foi o Estado. Mas voltando a sua pergunta, todos eles têm um histórico político e não me adianta colocar como político. Sou um outsider. Estamos num mundo de rupturas em que nós precisamos de coisas novas. Me parece que todo esse sistema político, que tem não só no Brasil, mas em outros países, tem dados sinais um pouco de saturação e falência, e nós vamos precisar reinventarmos um pouco esse Estado que está aí, que quer fazer de tudo, mas não consegue fazer de tudo. É um Estado que considera o cidadão um tanto quanto incapaz de tomar decisões, de fazer por onde, mas as pessoas são inteligentes, têm condições, e hoje o que se vê é o Estado invadindo um pouco a privacidade.

O senhor é conhecido no interior de Minas, principalmente nas cidades onde estão localizadas suas lojas e postos. Qual é a estratégia para se tornar mais conhecido, por exemplo, na região metropolitana?

Essa estratégia ainda não está totalmente definida. Mas eu tenho tido encontros e palestras frequentes na região metropolitana. É um trabalho contínuo, de formiguinha, mas que vai acontecendo e quem sabe em mais alguns meses, quando a gente tiver a definição do vice-governador – que vai ser alguém aqui da região metropolitana, bem conhecido – que vai, por tabela, me tornar conhecido também.

Como que está a negociação para vice? Já tem um nome?

Não tem nada definido. A decisão do partido é que vamos aguardar mais uns meses para tomarmos essa decisão. A única coisa que está definida é que será alguém da região metropolitana porque eu já sou do interior. Então precisaríamos compor essa questão.

Empresário também?

Não sei. Quem sabe um professor, está em aberto.

O senhor tem percorrido o interior do Estado como pré-candidato?

Tenho. Para esse ano ainda tenho algumas visitas. Mas o forte mesmo vai começar a partir de janeiro e o meu objetivo é visitar mais de 500 cidades de Minas. Quero fazer a campanha que mais visitou cidades e a que menos custou, já para deixar todos os candidatos para trás. Eu quero ver quem vai conseguir o número de visitas que eu vou fazer, com o custo que eu vou ter. Quero fazer uma prestação de contas e mostrar: fui o que mais fez e o que menos gastou. Isso já para dar uma ideia de como vai ser a gestão.

Essas viagens vão ser feitas de carro, com o mínimo de pessoal possível?

Isso. Eu sei dirigir. Nunca precisei de motorista. Aqui no Brasil criou-se uma áurea de que político é monarca e precisa de assessores, de motoristas, de palácios. Eu já falei que se eu for eleito quero morar em um apartamento de 100m² a 200 m², dando para receber meus filhos estou satisfeito. E vender, não sei se é uma mansão que tem aí, não precisa disso.

O Palácio das Mangabeiras…

Eu não conheço os trâmites, mas se tiver alguma residência oficial aí do governador que esteja custando para o Estado, acho ela dispensável.

Se eleito, o senhor também irá diminuir os salários do primeiro escalão do governo?

Com toda certeza. Eu quero que o governo pague dentro do mercado. Uma pessoa formada em direito hoje que passa em um concurso público e vai trabalhar na Procuradoria Geral da República entra lá ganhando R$ 18 mil. Se esse mesmo advogado for para a iniciativa privada é R$ 3.500. Porque esse salário de R$ 18 mil? Que recém-formado consegue ganhar R$ 18 mil? Só quem vai para o governo. Criamos aqui no Brasil a ilha da fantasia que é o Estado, nós precisamos é acabar com essa ilha da fantasia.

O partido Novo é contra a coligação partidária?

Não é que ele é contra, ele pode fazer coligações, desde que o outro partido aceite trabalhar na nossa linha. Somos contra o fundo partidário. Não queremos dinheiro meu e seu financiando políticos. Nós já pagamos impostos demais para estarmos financiando políticos. Não queremos foro privilegiado, que é uma vergonha o que aconteceu aí recentemente com criminosos que não são presos. Então, se tiver outros partidos que compartilhem isso, serão bem-vindos.

Numa campanha eleitoral, o tempo de rádio e de TV é muito importante, e isso vem com a coligação. Com a falta de uma coligação, o foco vai ser trabalhar nas redes sociais?

Vejo que nós vamos ter duas armas. Uma delas será essa questão de viajar e trabalhar mais do que qualquer outro, porque é o que eu sei fazer bem, até tenho um preparo físico bom, sou meio atleta. Qualquer candidato aí pode vir disputar comigo natação ou corrida que acho que vai ficar bem para trás. Além disso, a grande diferença que vejo é que temos uma proposta que nenhum outro tem igual. Que partido que quer acabar com o dinheiro público para campanha? Que quer acabar com mordomia para si próprio? Acho que nenhum quer, todo mundo quer continuar mamando nos contribuintes. O que nós temos de muito bom são as propostas. Mas eu acredito muito na mídia social e nesse trabalho que nós vamos fazer corpo a corpo. Vamos mostrar pela campanha que a gente trabalha sério e muito, muito mais que os concorrentes aí, com todo respeito a eles.

Mas como construir uma base na Assembleia Legislativa, em que é preciso ser político para negociar?

Estamos caminhando para uma nova política em que esses parlamentares vão começar a votar mais com a consciência do que é bom para a sociedade ao invés do que é bom para o interesse próprio. Vejo que tem muita gente nova querendo se candidatar, espero que tenha uma renovação grande, a nível estadual e federal. Estou disposto a sentar com cada um dos deputados individualmente para ver as necessidades de cada região deles e fazer um trabalho que seja bom para o Estado. E quero que eles comprem essa ideia, que nós estamos aqui para fazer o melhor para o conjunto e não para cada um individualmente.

​E como o senhor avalia o cenário político nacional? É a favor de operações como a Lava Jato? ​

Apoio totalmente a Lava Jato e diria que a equipe de Curitiba é um exemplo para todo Brasil. É, inclusive, um exemplo para o Supremo que peca pela lerdeza, pela inoperância e até pela politicagem, como se viu recentemente. Esse tipo de ação é que vai transformar nossa sociedade. O que nós precisamos é que quem procedeu de forma criminosa pague pelo crime, e não que continue sendo um juiz, um senador ou qualquer coisa, recebendo um salário que nem eu e nem você recebemos e depois receba uma aposentadoria que nem eu e nem você nunca vamos ter. Então, nós estamos vivendo em um país que parece que os valores ficaram às avessas. Quem é criminoso é quem prospera, e não quem trabalha duro, empreende e arrisca. É louvável o que o Sergio Moro fez nos últimos anos e que surjam muitos outros. A nossa proposta é essa: Transparência. Se lá na empresa eu tenho que prestar contas de tudo, por qual motivo o Estado não tem que prestar contas de tudo? Se lá na empresa na hora que a gente faz alguma coisa errada nós respondemos processos – que pode ser criminal – ou somos autuados de maneira exorbitante por erros pequenos, por qual motivo o político que está lidando até com recursos públicos, que é muito mais grave, não paga por isso? Então, tem que ser um tratamento igual, tem que ter transparência. Eu e todos brasileiros estamos cansados dessa situação que está aí. Eu vejo que um dos motivos que me move é essa indignação. É ver como os pesos são diferentes para quem está lá dentro do Estado governando e para quem está fora do Estado.

Fonte: Jornal O Tempo 29/11/2017

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