Saúde e Vida

Campanhas virtuais para custear tratamentos de saúde mobilizam internautas

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Quando fala do carinho que seu filho recebeu e continua recendo de milhares de pessoas, a maioria desconhecida, e dos R$ 724 mil arrecadados em uma campanha que vem ajudando a mantê-los nos Estados Unidos, a servidora pública federal Gecilene Oliveira Matos, de 34 anos, se emociona. Graças à mobilização on-line, o filho, Matheus Teodoro Oliveira, o Matheusinho, de 7 anos, se trata hoje nos EUA de displasia neuronal intestinal – doença rara que o impede de se alimentar por vias naturais. Outro que conquistou o coração de milhares de internautas foi o estudante Romero Junio do Espírito Santo, de 16, o Romerinho, que embarcou em 17 de maio para a Califórnia, também na América, onde faz tratamento de leucemia. Nesse caso, a ajuda virtual com resultados bem reais alcançou status de recorde, com a arrecadação de R$ 1 milhão em curto espaço de tempo, dinheiro que possibilitou o embarque do estudante.

Matheusinho, Romerinho e centenas de outras crianças e adolescentes Brasil afora compartilham do mesmo remédio que ajuda a mantê-los vivos, a solidariedade, turbinada pelas mais modernas ferramentas e redes de comunicação on-line. São inúmeras as campanhas do tipo na internet, com doações normalmente depositadas diretamente na conta bancária de pais ou responsável pela criança, sem cobrança de taxas de administração.

Por trás delas estão familiares ou pessoas como o engenheiro da computação paulista Fábio Laé de Souza, de 38. Uma doença o impediu de voltar ao trabalho, mas ele não se deu por vencido e hoje dedica a sua vida a ajudar famílias que passavam por situação semelhante, fazendo campanhas de arrecadação via internet para crianças e adolescentes com doenças graves, que precisam de cirurgia ou tratamento. Fábio criou o site Clique da Esperança, que já viabilizou tratamentos para mais de 50 crianças. Todas as doações são feitas diretamente aos pais ou responsáveis pelo paciente e Fábio não cobra taxas pelo site, que atualmente está parado enquanto passa por reformulação.

No caso da campanha de Matheus, foi a própria mãe e uma sobrinha que organizaram a mobilização. Em dois meses, elas conseguiram arrecadar R$ 600 mil. Mesmo depois que a Justiça determinou à União custear o transporte e o tratamento do garoto para Miami, o dinheiro continuou entrando na conta bancária. “Se não fosse esse dinheiro, estaríamos passando necessidade aqui nos Estados Unidos. O governo brasileiro pagou o transporte e o hospital, mas ainda não fez o repasse para alimentação, moradia e roupas. O dinheiro da campanha ajudou a dar entrada no aluguel de um apartamento e na compra de medicamentos”, conta Gecilene.

Ainda no Brasil, as doações ajudaram o garoto a ficar livre dos fios que o mantinham preso a uma máquina. “Compramos uma bombinha que ficava presa nas costas de Matheus, por R$ 6,3 mil, e ele ficou extremamente feliz”, conta a mãe. O garoto também tem uma deficiência visual, em razão de uma catarata congênita e do descolamento de retina nos dois olhos.

Gecilene conta que ficou surpresa com o amor das pessoas pelo seu filho. “Hoje em dia, muita gente fica desconfiada em ajudar. No caso de Matheus, muitos abraçaram a causa por amor ao meu filho. Até hoje recebo mensagens por rede social e choro. Fico muito emocionada com esse amor. Às vezes, leio as mensagens para ele. As pessoas mandam recados, falam que estão na torcida, orando por ele”, conta a mãe, emocionada.

Religiosa, a servidora pública conta que agradece a Deus todos os dias por ter o filho vivo. “Ele é o maior presente da minha vida, mesmo com todas as dificuldades que estamos enfrentando. Agradeço muito a Deus também pelas pessoas que nos ajudaram. Peço que recebam em dobro, que sejam abençoadas, que recebam em troca todo o carinho que têm pelo meu filho”, disse a mãe, que embarcou em 24 de junho com o menino para os Estados Unidos, onde será feito um transplante de intestino.

Matheus ficou conhecido em uma reportagem quando fugiu do hospital. Depois, entrou em campo com os jogadores do Cruzeiro e ficou famoso na mídia e nas redes sociais. Ele também conquistou jogadores e torcidas do Atlético e do América. “Muita gente fez rifas e almoços para arrecadar dinheiro e mandava o recibo do depósito pela internet”, disse a servidora pública.

Mobilização avassaladora
Romerinho, ao contrário de Matheus, não teve ajuda do governo brasileiro. Mas hoje se trata graças a uma das mais movimentadas e bem-sucedidas campanhas já feitas, que contou com a solidariedade de milhares de desconhecidos, além de amigos, colegas de escola e artistas diversos. A família deve ficar pelo menos seis meses nos EUA, para um tratamento que vai custar US$ 250 mil.

Depois de ver o filho mais próximo da cura, a esperança do pai de Romerinho, o comerciante Romero Fernandes, de 46, é continuar a campanha para ajudar outras pessoas com leucemia que precisam do tratamento. Ele conta que a ideia da campanha foi dos dois. “Gravamos um vídeo e postamos na internet. A partir daí, fomos mobilizando pessoas e também fizemos contatos boca a boca”, conta.

Para ele, o bom relacionamento do filho na escola também foi fundamental para vencer resistências e desconfianças que uma campanha desse tipo por vezes enfrenta. “Foi uma ação muito verdadeira de pedir socorro, mas com a preocupação muito grande de demonstrar seriedade e a necessidade da mobilização”, disse o comerciante, ele próprio acostumado a ajudar entidades beneficentes. “Existe uma citação na Bíblia que diz: ‘Faça sua parte, que Eu te ajudarei’. Quando se faz o bem, muito provavelmente você será retribuído em um momento da sua vida”, acredita o comerciante. Segundo ele, as milhares de pessoas que ajudaram são incluídas em suas orações, mesmo sendo desconhecidas.

NEYMAR E CIA. Em Montes Claros, Norte de Minas, uma campanha de doações para ajudar o garoto Lucas Costa, de 8, portador de uma das formas mais graves da epidermólise bolhosa, uma doença rara que causa bolhas e feridas na pele, mobiliza milhares de pessoas via internet, incluindo celebridades. Uma delas é o jogador Neymar, que postou em seu perfil no Instagram uma mensagem pedindo apoio para Lucas. A grande dificuldade é adquirir a pomada usada para o controle da doença, que é importada dos Estados Unidos e tem custo elevado.

O jogador tomou conhecimento da história do menino por intermédio da mobilização “Amigos do Lucas Costa”, feita via redes sociais. Responsável pela criação da campanha, a blogueira e publicitária Letícia Turano, também de Montes Claros, destaca que a causa já recebeu a adesão de vários outros famosos, como as atrizes Carolina Dieckman, Tatá Werneck, Luíza Brunet e o cantor Wesley Safadão.

ENQUANTO ISSO…
… Colaboração na hora da dor

Recentemente, mais uma campanha foi lançada na internet, para custear o traslado do corpo do libanês Edward Mamo, de 26, de Belo Horizonte para Beirute, capital do Líbano, sua terra natal. O jovem foi assassinado em assalto na capital mineira no dia 30 do mês passado. “O destino o levou para longe das suas irmãs, que também estão lutando pelos seus direitos. Hoje, o mínimo que podemos fazer para ajudá-los neste momento tão difícil é tornar realidade um dos seus sonhos, levá-lo de volta para o seu país de origem, para que sua família possa dizer um último adeus”, diz parte da mensagem no site da campanha, que pretende arrecadar R$ 28 mil. Colegas de trabalho de Edward promoveram uma noite beneficente para custear parte da transferência. A campanha de arrecadação, no formato crowdfunding (financiamento coletivo), foi publicada no site Kickante. Na quarta-feira, já haviam sido arrecadados R$ 5.662, pouco mais de 20% do necessário.

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