Brasil

90% dos estudantes brasileiros não estão satisfeitos com suas aulas, diz pesquisa

7 Min leitura

Projeto inédito que contou com a participação de jovens de 13 a 21 anos, de todas as regiões do país, mostra o que eles pensam e o que esperam  da escola; metodologia envolveu estudantes na formulação das perguntas  e na mobilização dos colegas para respondê-las

 

(São Paulo) – A pesquisa “Nossa Escola em (Re)Construção”, que usou metodologia participativa para ouvir 132 mil adolescentes e jovens de 13 a 21 anos, revela que só um em cada 10 respondentes está satisfeito com as aulas e os materiais pedagógicos. Os prédios e a estrutura das escolas também são motivos de insatisfação: metade dos entrevistados consideram esses itens inadequados. Já 8 em cada 10 acreditam que as relações dos alunos com a equipe escolar e com seus colegas precisam melhorar. Apesar das críticas, os participantes da pesquisa demonstram que ainda têm um vínculo afetivo com o espaço escolar: 70% deles gostam de estudar em suas escolas e 72% dizem que lá aprendem coisas úteis para sua vida.

“Nossa Escola em (Re)Construção” é uma iniciativa do portal Porvir (porvir.org), especializado em inovações educacionais, programa do Instituto Inspirare. O estudo foi realizado em parceria com a Rede Conhecimento Social e será lançado oficialmente no dia 22 de setembro.  A escuta ainda revela, por exemplo, que 36% consideram que “atividades práticas ou resolução de problemas” os faria aprender mais, e 27% entendem que o uso da tecnologia contribui para a aprendizagem. Os jovens também acreditam que a escola deve prepará-los para o futuro. Mesmo quando imaginam uma instituição inovadora, 27% dizem que o foco principal deve ser “preparar para o Enem e vestibular” e 23%, “preparar para o mercado de trabalho”. Em relação ao currículo, 25% desejam ter algumas disciplinas obrigatórias e poder escolher outras; outros 21% querem ter disciplinas obrigatórias no horário de aula e eletivas no contraturno. A sala de aula tradicional, com cadeiras em fila, está em baixa entre os consultados, com 30% dizendo que seriam mais felizes em um ambiente com móveis variados, como pufes, bancadas, almofadas e sofás; enquanto outros 19% gostariam de intercalar uso de ambientes internos e externos.

Para fazer um raio X do que os alunos pensam da escola e, principalmente, do que esperam dela, a pesquisa se valeu de uma metodologia chamada PerguntAção, que envolveu os jovens em todas as etapas do processo – da elaboração do questionário à análise das respostas. “O resultado dessa consulta reforça a ideia de que precisamos repensar a escola para que ela considere as especificidades e faça sentido para os jovens do século 21”, afirma Anna Penido, diretora do Instituto Inspirare.

O questionário da pesquisa ficou disponível na internet entre 28 de abril a 31 de julho deste ano, para que alunos ou ex-alunos de todo o Brasil pudessem responder às questões formuladas com apoio de um conselho de especialistas e de um grupo de 25 jovens de 13 a 21 anos. Os respondentes representam 1707 municípios de todos os Estados mais o Distrito Federal. A Região sudeste teve a maior proporção de participantes: 85,4%. Os interessados em conhecer os resultados da escuta e realizar iniciativa semelhantes podem ter acesso ao relatório da pesquisa na íntegra e ao questionário em PDF no link (http://porvir.org/nossaescola).

Se de um lado, “Nossa Escola em (Re)Construção” não tem o rigor científico das pesquisas baseadas em amostragem, de outro tem a força de ter sido elaborada com a participação da própria juventude e de ter sido respondida de forma voluntária.

“PerguntAção é um processo de construção participativa de consultas de opinião para gerar mobilização. Os resultados não aparecem apenas ao final, mas durante todo o processo de elaboração da pesquisa, quando os alunos são mobilizados para analisar a escola e propor soluções”, diz Marisa Villi, cofundadora da Rede Conhecimento Social. Entre os que participaram da “Nossa Escola em (Re)Construção”, 86% estão matriculados em escolas públicas. Todos foram convidados a responder ao questionário online com 20 perguntas, compostas por dezenas de subtemas e opções de respostas, que substituíram a linguagem tradicional das pesquisas para aproximá-las do universo dos entrevistados.

Para alguns tópicos, os alunos puderam escolher entre as alternativas

  • “Tá tranquilo, tá favorável”, correspondente a ótimo
  • “Até que tá bom, mas…”, correspondente a bom
  • “Tá mais ou menos”, correspondente a regular
  • “Tem que melhorar”, correspondente a ruim
  • “Tá tenso”, correspondente a péssimo.

Após a divulgação dos resultados, as escolas e redes de ensino que mobilizaram a participação de mais de 50 alunos na pesquisa receberão relatórios específicos. Esse é o caso das secretarias estaduais de São Paulo e Goiás, do Centro Paula Souza (SP), da Escola Sebrae de Belo Horizonte e do Sinepe/RS (Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul), entre vários outros. O objetivo é que os resultados sejam utilizados para inspirar transformações no dia a dia das unidades de ensino.

Expectativa x Realidade

Para entender como anda a oferta de atividades e práticas pedagógicas e de participação nas escolas,  os estudantes compararam o que existe, qual o nível de engajamento dos alunos e o que não pode faltar em um ambiente de aprendizagem ideal.

Quando refletem sobre a tomada de decisões nas escolas, apenas 17% afirmam que participam delas e 52% dizem que isso deveria ocorrer. Entre as atividades que envolvem colocar a mão na massa, as olímpíadas de conhecimento são as mais comuns: 55% dos respondentes disseram que essas competições acontecem regularmente, mas eles também gostariam de ter outras experiências: 4 em cada 10 desejam participar de oficinas ligadas à comunicação, 6 em cada 10 dizem que não podem faltar atividades em laboratório e 5 em cada 10 gostariam de participar de projetos de melhoria de problemas da escola e da comunidade.

Os jovens também sentem a necessidade de aprender fora da escola. Apenas 14% interagem com ONGs e 20% com a comunidade do entorno, mas 62% pedem visitas, passeios e trabalhos que extrapolem os muros da escola.

As escolas que os jovens querem

“Nossa Escola em (Re)Construção” também convidou os jovens a se manifestarem sobre como deveriam ser as dependências físicas da unidade de ensino de seus sonhos. Para 51%, a tecnologia não deveria se restringir aos laboratórios de informática, mas também estar presente nas salas de aula e em outros ambientes. Ao mesmo tempo, a pesquisa indica que eles não desejam estudar apenas em lugares fechados: 44% sonham com uma escola com bastante área verde.

Para avançar na investigação de qual seria a escola ideal, a pesquisa sugeriu que os jovens pensassem em quatro cenários diferentes:

  1. Escola para aprender mais;
  2. Escola que respeita a individualidade de todos;
  3. Escola inovadora;
  4. Escola que deixa mais feliz;

Cada cenário foi analisado a partir de seis características: foco e objetivo, conteúdos, organização curricular, jeito de aprender, recursos educacionais e jeito da sala de aula. Estão entre os principais desejos dos jovens:

A escola para aprender mais A escola que respeita a individualidade de todos A escola inovadora A escola que deixa mais feliz
O foco da escola Preparar para o Enem e vestibular – 34%
Preparar para o mercado de trabalho – 24%
Preparar para o Enem e vestibular – 27%
Preparar para o mercado de trabalho – 20%
Preparar para o Enem e vestibular – 27%
Preparar para o mercado de trabalho – 23%
Preparar para o Enem e vestibular – 28%
Preparar para o mercado de trabalho – 23%
Preparar para relações humanas e sociais – 11%
Os conteúdos Matemática – 15%
Conhecimentos ligados à tecnologia – 13%
Habilidades de relacionamento – 16%
Política, cidadania e direitos humanos – 10%
Conhecimentos ligados à tecnologia – 17%
Habilidades de relacionamento – 12%
Conhecimentos ligados à tecnologia – 13%
Esportes e bem-estar – 12%
A organização curricular Ter disciplinas obrigatórias e poder escolher outras – 25%
Ter disciplinas obrigatórias no horário da aula e poder escolher outras fora do horário – 21%
Ter disciplinas obrigatórias e poder escolher outras – 23%
Ter disciplinas obrigatórias no horário da aula e poder escolher outras fora do horário – 19%
Ter disciplinas obrigatórias e poder escolher outras – 23%
Ter disciplinas obrigatórias no horário da aula e poder escolher outras fora do horário – 19%
Ter disciplinas obrigatórias e poder escolher outras – 25%
Poder escolher todas as disciplinas que vou fazer ou não – 19%
O jeito de aprender Atividades práticas e resolução de problemas – 36%
Aprender usando tecnologia – 27%
Atividades práticas e resolução de problemas – 31%
Aprender usando tecnologia – 23%
Aprender usando tecnologia – 33%

Atividades práticas e resolução de problemas – 27%

Aprender usando tecnologia – 31%

Atividades práticas e resolução de problemas – 29%

Os recursos educacionais Projetos – 23%
Rodas de conversa – 18%
Rodas de conversa – 24%
Projetos – 20%
Projetos – 18%
Pesquisas na internet – 16%
Robótica e programação – 15%
Projetos – 19%
Rodas de conversa – 17%
Pesquisas na internet – 15%
O jeito da sala de aula Poder usar ambientes internos e externos – 27%
Ter móveis e ambientes variados – 23%
Ter móveis e ambientes variados – 21%
Poder usar ambientes internos e externos – 19%
Carteiras em filas – 18%
Ter móveis e ambientes variados – 32%
Poder usar ambientes internos e externos – 19%
Ter móveis e ambientes variados – 30%
Poder usar ambientes internos e externos – 19%

A disseminação da “Nossa Escola em (Re) Construção” tem a parceria das empresas Mova Filmes e Inketa, que produziram vídeos e uma plataforma virtual para ampliar o acesso dos interessados aos dados da pesquisa.

SOBRE O INSTITUTO INSPIRARE

Criado em 2011, o Instituto Inspirare (http://inspirare.org.br/) tem como missão inspirar inovações que possam melhorar a educação brasileira. Sua atuação acontece por meio de quatro programas: o Porvir, que difunde tendências e inovações educacionais através do portal http://porvir.org/; o Iniciativas Empreendedoras, que fomenta empreendimentos de impacto em educação; o Laboratórios Educativos, que experimenta inovações educacionais na prática; e o Educação Pública Inovadora, que apoia redes públicas de ensino que querem inovar em escala.

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