Após publicar ontem o caso de Júlia* – uma jovem que ajuizou ação contra o Clube Chalezinho, boate localizada na região Oeste de Belo Horizonte, que teve sua entrada negada por não se encaixar no “perfil da casa”, no último dia 10 de julho –, O TEMPO recebeu centenas de relatos de leitores confirmando que a discriminação acontece no estabelecimento. Entre eles estão os depoimentos de dois homens que se dizem ex-funcionários da casa.
Um homem, afirmando ser um ex-segurança da boate, 39, pediu anonimato e informou que trabalhou no estabelecimento em 2008 e 2009. Ele disse que, durante esse tempo, recebeu ordens para barrar jovens que não se “encaixavam no perfil do Chalezinho”, exatamente como Júlia* afirmou ter acontecido com ela. “Existe até um código. Quando o proprietário fala que ‘não é PC’ (Perfil da Casa), não entra. Ou por causa da forma como está vestida, ou porque é preto. Preto só entra se tiver um conhecido ou se for famoso”, denuncia.
A idade é, de acordo com esse ex-funcionário, uma das desculpas usadas para “dispensar” clientes. No caso de Júlia, afirmaram que ela não poderia entrar porque tinha menos de 21 anos. Ele relatou que a boate é bastante frequentada por jovens de 18 anos. “Nunca falei diretamente que era por causa do perfil. Usava desculpas, falava que era festa privada, que era aniversário, que estava lotado, qualquer coisa menos humilhante”, disse.
O homem, que se considera pardo, pediu demissão do Chalezinho porque não “suportava mais ver pessoas sendo humilhadas” e só não denunciou o caso antes porque seria a versão dele contra a do clube. “Com esse espaço, me ofereço até para testemunhar”, disse. Outro homem que já fez segurança em vários eventos no Chalezinho e não será identificado confirmou o depoimento do colega. “Esse tipo de preconceito é comum lá”, afirmou.
Outro lado. Por meio da assessoria de imprensa, o Clube Chalezinho lamenta “ter que explicar o caso sem ter informações suficientes para entender o que de fato houve e até a existência de supostos ex-funcionários, não identificados”. A boate reafirmou não existir qualquer prática de discriminação com base em etnia, o que parece ter sido alegado.
Segundo o Chalezinho, as restrições para entrar na casa têm critérios objetivos, como: programas de fidelidade, serviços adquiridos, vestimentas (camisetas de time, chinelos, etc), que são divulgadas. Leia a resposta na íntegra em www.otempo.com.br.
*Nome fictício
RELATOS
Prática acontece em outros locais
As denúncias dos leitores de O TEMPO sobre a prática de discriminação não se restringiram ao Clube Chalezinho. Na publicação da reportagem no Facebook, os comentários apontam para casos semelhantes também na entrada das boates Garota Carioca e Woods, ambas em Nova Lima, na região metropolitana, e Na Sala, no bairro Santa Lúcia, na região Centro-Sul da capital.
“Não volto na Garota Carioca por ter presenciado um caso como esse”, “Isso acontece com mais frequência que imaginamos. Principalmente na boate Na Sala” e “Na Woods já aconteceu de irem dois amigos juntos, um podia entrar e outro não, ‘porque a casa estava lotada’”, foram apenas alguns dos depoimentos.
Procurada, a casa Garota Carioca informou, por meio de uma gerente, que ninguém é barrado por conta do perfil. “Trabalhamos com o nome na lista, mas temos também o valor sem lista. Portanto, a pessoa pode entrar de qualquer forma”, argumentou.
“A Woods BH não faz seleção de clientes e trabalha muitas vezes com vendas antecipadas via site, onde qualquer pessoa, maior de idade, tem acesso à casa”, disse a outra boate, por meio de nota. Já a Na Sala, que é do mesmo grupo proprietário do Chalezinho, informou que o procedimento adotado é o mesmo nas duas casas. (JVC)
Depoimentos
Relatos de leitores postados no Facebook de O TEMPO:
“A boate faz seleção sim das pessoas. Conheço várias que já passaram por essa situação lá.”
“Conheço funcionários da casa que fazem essa seleção, e conheço pessoas que já foram barradas na entrada. As desculpas são sempre as mais vazias, e têm aqueles que se ‘gabam’ e falam esse absurdo de não se enquadrar no perfil.”
“Já passei pela mesmíssima situação com uma amiga. E, na delegacia, o dono do #Chalezinho falou que a casa é dele e só entra quem ele quer. Resultado: eu, ela e as demais convidadas nunca mais voltamos no lugar.”
“A casa falar que não faz essa distinção pra se passar de inocente. Se não faz, então, troquem esses ‘profissionais’, pois o filme da casa não está nada legal há um bom tempo.”