Faixa de novo CD tem referência de One Republic e Thirty Seconds to Mars.
‘Acho importante inovar nos arranjos’, diz Leo sobre ‘Caminhos diferentes’
Victor e Leo na capa do CD ‘Perfil’ (Foto: Divulgação)
*Rodrigo Ortega – Do G1, em São Paulo
É uma heresia dizer que a dupla Victor & Leo toca o bom e velho rock and roll. Verdade seja dita sobre os irmãos mineiros: eles tocam novo rock também. Se a “voz suave de Neil Young” e o hard rock de Bon Jovi e Gunsforam citados como referências anteriores, agora vem algo mais moderno. “Caminhos diferentes”, uma das duas faixas novas da coletânea “Perfil”, tem arranjo inspirado no rock alternativo com elementos eletrônicos, conta Leo. Coldplay, One Republic, Thirty Seconds to Mars e Coldplay são referências. Clique paraver a letra e ouvir “Caminhos diferentes”.
“Não tenho medo de arriscar. É algo novo dentro do sertanejo”, diz Leo, coautor e arranjador da música. Na conversa com o G1, os músicos avaliam o gosto por misturas nos 22 anos de carreira. “Eu seria hipócrita se eu dissesse que ‘Borboletas’ é sertaneja. Não tem nada de sertanejo ali”, diz Victor sobre um dos maiores sucessos, presente na coletânea.
G1 – Já que repassam a carreira nesse disco, o que acham o crescimento do sertanejo nesses 22 anos de trabalho?
Leo – Fundamental foi a renovação do gênero, para entrar nos centros urbanos, e a mistura com outros estilos. Houve foi uma mistura geral. Isso foi muito positivo. As pessoas entenderam que a cultura sertaneja é cultura brasileira, e faz parte da essência do Brasil.
Victor – Em relação ao nosso trabalho, “Borboletas” é uma música sertaneja? Nada disso. Eu seria hipócrita se eu dissesse que “Borboletas” é sertaneja. Não tem nada de sertanejo ali. A única coisa de sertaneja é nossa interpretação, como dupla, mesmo assim com referências distintas. Agora, “Deus e eu no sertão” é uma música sertaneja renovada. “Vida boa” e “Sem trânsito, sem avião” também. Porque é uma música do sertão feita com uma nova linguagem. Nem tudo que voa é passarinho.
G1 – E nem toda dupla é sertaneja?
Victor – Nem toda dupla é sertaneja. E nem tudo que você ouve tido como sertanejo é. Não é mesmo. Isso é minha opinião, não do meu irmão.
Leo – Respeito demais sua opinião, até concordo com o seu ponto de vista. Mas eu acho o seguinte: tudo vem de um gênero só, que é música sertaneja. O samba que se faz hoje não é igual ao que se fazia anos atrás. O rock que se faz hoje não é igual ao que se fazia.
Victor – É bem pior (risos).
Leo – O rock que se faz hoje traz muita mistura. Fora do Brasil, misturam hard rock, rock tradicional com eletrônico, R&B, com soul. Hoje a música mundial é mistura. E isso aconteceu no Brasil com a música sertaneja, que passa por isso.
Victor – Nós fazemos música pop, rock, soul, um monte de coisa misturada, e fazemos também música sertaneja. Agora, tem duplas que são tidas como sertanejas que não fazem nenhuma. Aí é que eu estou falando. Tem muito gato por lebre sendo trocado.
G1 – Sobre as músicas novas, a primeira coisa que notei em “Caminhos diferentes” foi o arranjo do Leo.
Leo – Essa música foi feita em voz e violão, um country. Depois pesquiso muito, ouvindo coisas diferentes, baixando músicas. Experimentei inúmeras coisas. Um negócio mais acústico, com um bumbo eletrônico, mas com violões. Depois mudei, com guitarras, para o lado pop rock, mas também não gostei. Fiz um laboratório. Acabei experimentando o “pad” [controlador de efeitos eletrônicos], e colocando loops [trecho de gravação em sequência] também no refrão, com a bateria acústica. Foi o que mais me emocionou. Como eu não tenho medo de arriscar… É algo muito novo dentro do sertanejo, do que a gente já fez.
G1 – Teve uma inspiração específica?
Leo – Tem. Nessa canção eu tenho influências de One Republic, Thirty Second to Mars, Coldplay, um pouco de U2. Todos fazem esse rock alternativo misturado com eletrônico. Mistura um pouco também do hard rock, essa voz rasgada que os caras tinham antigamente, e essa base de guitarra que se usa muito nesse rock alternativo. Lógico que tem seu violãozinho e acordeom. Acho importante a gente inovar nos arranjos, mas não perder a essência. A essência do Victor e Leo está ali, embora tenha ousado muito no arranjo.
G1 – Já ‘Como eu amei’ [composta pelo Victor] é mais delicada. Qual foi a inspiração?
Victor – Vivência. É uma balada rock. Vim de gravações de guitarra no “Viva por mim” e continuei nessa música. Isso vem de muito antes. Quando a gente cantava no início, as pessoas que nos rodeavam na república em Viçosa eram roqueiros. Então ficava estranho cantar como se fosse dupla normal. Os caras iam certamente rejeitar. A gente tinha um jeito de cantar para agradar todo mundo. E aí mudava as nuances das vozes. Isso no primeiro ano, há 22 anos, uma tentativa de conversação universal. E veio se refletindo nos discos depois. Essa música, por exemplo, é uma forma de estar em dupla cantando um rock.
G1 – Houve uma divisão muito clara nessa coletânea, de uma música para cada um. Como pretendem continuar o trabalho?
Leo – A gente pode fazer um “som Victor” e um “som Leo”, que no palco vai ser Victor e Leo.
Victor – Acho que a voz do Leo em uma canção que eu arranjei é um “tempero Victor e Leo”. Acho que a gente ficou mais prático. A gente batia muito cabeça, chegava no estúdio e ficava horas até um ponto comum, porque um queria uma coisa e um queria outra. Agora falamos que é possível que cada um vista as suas canções. E aí é como se fosse uma participação especial de um na canção do outro, que dá um tempero.