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Juros do cartão de crédito têm o maior aumento em 16 anos

3 Min leitura
Índice chega a 300% anualmente
e pode crescer mais

 Cartao de credito  (2)

A elevação dos juros altos compensa o não recebimento pela parcela de inadimplentes
(Foto: Divulgação)
* Felipe José de Jesus  (JCE)

A taxa de juros do cartão de crédito vem crescendo no Brasil. Ela subiu para 12,14% ao mês, batendo a casa dos 300% por ano. Para especialistas da área financeira, o aumento cairá sobre os consumidores, já que agora uma dívida de R$ 1 mil no cartão poderá se transformar em cerca de R$3,900 (ao ano), caso ela esteja em atraso.  De acordo com a declaração da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), essa é a maior taxa cobrada desde março de 1999.

Para o economista Paulo Roberto, as taxas foram reajustadas por causa das mudanças econômicas. “O crescimento do desemprego, o Produto Interno Bruto (PIB) baixo e a retração do consumo das famílias elevam o perigo de inadimplência. Isso acaba fazendo com que os juros sejam aumentados. Conforme a perspectiva das instituições financeiras, o retorno dos juros altos compensa o não recebimento pela parcela de inadimplentes. Essa é uma estratégia dos bancos para não comprometer o chamado spread bancário, que é a diferença entre o que pagam na captação de recursos no mercado e o que cobram dos seus clientes nas operações de crédito”, explica.

Segundo Roberto, o atual ciclo econômico brasileiro faz com que os bancos fiquem extremamente mais criteriosos com os consumidores. “Esse cenário tem como pano de fundo a redução da renda das famílias que estão com menos verba disponível para o pagamento de dívida devido à inflação e o aumento de tarifas. Além disso, há a expectativa de acréscimo das taxas de desemprego. Tudo isso junto faz com que as instituições freiem e acabem ficando com medo e mais criteriosas com quem utiliza o cartão”, comenta.

30% da renda

Para especialistas financeiros, o limite de comprometimento com dividas no cartão é em torno de 30%. O economista Gelton Filho afirma que o comprometimento varia pelo salário de cada pessoa. “O cartão não pode deixar de ser pago jamais. Assim como o cheque especial não deve ser utilizado pelo mesmo motivo. Portanto, se houve queda na renda, tem de haver também no consumo. O cartão se bem utilizado pode gerar milhagens, seguro em caso de viagem e muitos outros benefícios. Depende muito da renda do consumidor. Os gastos têm quer ter proporção com o que se recebe. O que está acontecendo é que a classe trabalhadora já ajustou suas despesas desde o ano passado e a classe média não. As pessoas continuam gastando e começam a atrasar os pagamentos e a se endividarem. Como os mais pobres não têm acesso a crédito de qualidade, a restrição de consumo acontece pela limitação orçamentária”, relata.

O empresário Pedro Lima, 32, ficou durante 2 meses pagando o cartão com juros, já que com os aumentos de impostos a renda diminuiu. Ele conta que passou aperto financeiro. “Com este anúncio do aumento de juros, minimizei meu comprometimento que chegava 45% no mês. Tudo o que eu compro geralmente é pelo cartão. Porém, venho me organizando porque no último mês eu paguei quase R$90 a mais por uma semana de atraso e isso foi um susto para mim. Não sei se conseguirei reduzir os meus gastos em 30%. O problema é que o governo tomou certas medidas no escuro e isso pegou muita gente de surpresa”, desabafa.

Filho corrobora com o pensamento do empresário ao dizer que o governo não deveria ter tomado decisões sem diálogo. “Ele não deveria ter subido sucessivas vezes os juros e, pior, não dialogando de maneira clara sobre os cortes que iria fazer. Além disso, regulação de mercado não é muito bem vista, portanto, quando os bancos públicos praticam determinadas taxas, os privados também aumentam. A experiência recente mostra isso. Quando Caixa e o Banco do Brasil abaixaram os juros, os privados seguiram o mesmo caminho. Em contrapartida, quando voltaram a limitar o crédito, o mesmo aconteceu nos bancos privados”.

E o futuro?

Em relação aos novos índices que podem surgir ainda nesse ano, Roberto revela que não está otimista. “Por causa desse cenário atual que aumenta o risco de elevação dos índices de inadimplência, bem como as prováveis novas elevações da taxa básica de juros a Selic, não podemos esperar boas notícias para o fim de ano. O Banco Central deve continuar elevando a Selic, que atualmente está em 13,25% ao ano, os juros para o consumidor continuarão crescendo e podendo chegar a 400%. Se existe alguma medida para reter isso, ela deve vir da equipe econômica do governo federal”.

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