Cerca de 90% das cadernetas do país têm menos de R$ 2 mil aplicados
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*Tatiana Moraes – Hoje em Dia (JCE)
A elevação da Selic de 11% para 11,25% ao ano deu fôlego aos fundos de renda fixa, cuja rentabilidade acompanha a taxa básica, mas não tirou a competitividade da poupança, que continua a opção mais rentável para o pequeno investidor. Conforme simulação elaborada pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), devido às taxas de administração cobradas pelos bancos, aplicar na caderneta é mais vantajoso sempre que o encargo cobrado pelas instituições for superior a 1,50%.
Essa característica faz com que a poupança fique interessante para a maioria dos poupadores. “Cerca de 90% das cadernetas do país têm menos de R$ 2 mil aplicados”, afirma o consultor financeiro e professor de Finanças da faculdade Novos Horizontes Paulo Vieira. O montante é inferior ao necessário para que os bancos ofereçam uma taxa competitiva, ou seja, inferior a 1,50%.
Conforme explica o diretor executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Anefac, Miguel José Ribeiro de Oliveira, as taxas mais baixas normalmente são cobradas de investidores que aplicam pelo menos R$ 5 mil. No entanto, ele ressalta que a dica de ouro é procurar pelo melhor negócio. “Um investimento de R$ 5 mil pode ser considerado pequeno para um banco e grande para outro. É necessário que o cliente pesquise”, comenta.
Com a elevação da taxa básica, o rendimento mensal médio da poupança será de 0,58%, o equivalente a 7,19% ao ano. Isso significa que quem investir R$ 10.000 terá rendimento de R$ 719 em 12 meses. O montante é maior do que se ele fosse investido em um fundo de investimento com taxas de 2,50%, que rende 6,55% ao ano. Neste caso, o cliente do banco teria um rendimento anual de R$ 655.
Nos fundos de investimento cujas taxas são de 3%, os rendimentos são ainda menores, com expectativa de 6,04%, correspondentes a R$ 604 no ano. “As taxas de administração maiores são cobradas de fundos com aplicações menores porque o administrador vai ter que comprar mais títulos e fazer mais operações. É uma prática comum de mercado”, comenta Vieira.
Caminho inverso
Oliveira, da Anefac, acrescenta que aqueles investidores que detêm maior poder de fogo devem sair da poupança e aplicar nos fundos de investimentos, mais rentáveis para grandes valores. Para fundos de investimentos que cobram taxas de 1%, por exemplo, o rendimento é de 7,96%. Isso significa que uma aplicação de R$ 10.000 se transforma em R$ 10.796 em um ano, R$ 77 a mais do que se o investidor tivesse apostado na poupança.
“O mais importante é que os investimentos escolhidos estejam de acordo com o perfil do investidor. De nada adianta uma pessoa tradicional apostar na bolsa de valores em época de eleições, por exemplo”, comenta o professor de Finanças Paulo Vieira.
Hábito de poupar deve ser formado na infância, afirma especialista
O poupador do futuro deve ser formado na infância. A afirmação é do educador financeiro e diretor da consultoria DSOP, Reinaldo Domingos, que desenvolveu uma metodologia específica para desenvolver, desde cedo, adultos conscientes da importância de guardar dinheiro. Porém, ele ressalta que o capital a ser economizado deve ter um propósito específico. “O dinheiro serve para que nós possamos realizar”, afirma.
De acordo com Domingos, é importante mostrar às crianças que os bens materiais têm preço, não caem do céu. E que pequenas ações diárias fazem a diferença para que aquele bem possa ser conquistado. “Se a criança quer um videogame, lembre a ela que economizar água no banho é um passo para conquistar aquele sonho. Reduzir o consumo de energia é outro”, diz.
Ainda de acordo com ele, todos os produtos que desejam ser consumidos pelas crianças devem ter o valor mostrado a elas pelos pais. Se uma boneca custa R$ 100, por exemplo, a criança deve saber o preço. Se um videogame custa R$ 1.000, também. Além disso, a criança deve saber quanto ela deve economizar para comprar o item de desejo.
Nessa hora, entram em cena os cofrinhos e a mesada. Os pais podem estipular um valor semanal para dar aos filhos, explicando a eles que é necessário guardar uma parte para comprar aquilo que tanto querem. Vale ressaltar que é necessário mostrar quanto deve ser economizado para adquirir cada produto, ou cada sonho material.
Outro ponto é colocar metas para que os sonhos sejam realizados. No caso dos adultos, ele ressalta que são três tempos estipulados: sonhos para curto prazo (um ano), médio prazo (dez anos) e longo prazo (mais de dez anos). As crianças devem ter um tempo diferenciado: curto prazo (três meses), médio prazo (seis meses) e longo prazo (mais de seis meses). “Os pais podem criar três cofrinhos, um para cada sonho”, comenta.
Domingos diz que ao incentivar prazos e metas as crianças entendem melhor como funciona o mundo contábil e levam para a vida os ensinamentos econômicos. “Se você incentiva prazos para que os sonhos sejam realizados elas se empenham mais para conquistá-los”, comenta o educar financeiro.
Com relação à idade para que se inicie os ensinamentos, o educador financeiro afirma que quanto mais cedo, melhor.