*Felippe Drummond Neto – Hoje em Dia
As histórias de alguns super-heróis às vezes se cruzam com as de pessoas comuns. Foi exatamente assim com o pivô Shilton, destaque do Minas na campanha do surpreendente quarto lugar no Novo Basquete Brasil (NBB). Fã do Homem Aranha, o jogador descobriu no personagem um exemplo para não desistir das dificuldades no árduo caminho até se tornar um atleta profissional.
Nascido em Cuiabá (MT), Shilton mudou-se para São Paulo aos 14 anos sonhando em jogar basquete. Como não tinha dinheiro, dormia debaixo das arquibancadas do clube no qual treinava, e o único passatempo eram as revistas em quadrinhos.
“Eu era muito pobre e tinha acabado de chegar a São Paulo quando comecei a ler o Homem Aranha. Fiquei alucinado com aquele super-herói que também era muito pobre. E, como eu não tinha dinheiro, procurava gibis usados nos sebos”, lembra o jogador.
As leituras acabaram virando uma obsessão: Shilton chegou a ter uma coleção com 637 revistinhas somente do Homem Aranha, da qual acabou se desfazendo para ajudar a um tio. “Ele precisava de um incentivo para trabalhar, e eu o apoiei a montar o próprio sebo, em Cuiabá. Para iniciar, dei todos os meus gibis”, conta o atleta.
Pouco tempo depois, a carreira deslanchou, e o pivô resolveu homenagear o herói na pele. “Eu tinha uma camisa com esse desenho dele, e meu sonho era fazer essa tatuagem. Porém, não encontrava um tatuador que fizesse. E também respeitei a vontade dos meus pais, que não queriam. Só depois que completei 18 anos fui procurar um tatuador para fazer”, explica o jogador.
Com 1,98 m de altura e mais de 100 kg, Shilton é atualmente o segundo melhor reboteiro do campeonato. Com 8,54 recuperações por jogo, ele só fica atrás de Caio Torres, do São José, cuja média é de 9,10 rebotes por partida. Mas, ao contrário do herói, Shilton não possui um “sentido-aranha” para prever os acontecimentos e mantém a humildade.
“Não tenho nenhum superpoder, apenas a minha dedicação. Posso não ser o melhor jogador tecnicamente, mas, no quesito vontade, sou invencível. Quando entro na quadra, ninguém quer vencer mais do que eu. Essa é a minha teia”, brinca.
Contemporâneo de Nenê, Splitter e Anderson Varejão, Shilton não alimenta mais esperanças de defender a seleção, apesar dos excelentes números no Minas. “Se me convocarem, vou achar que tem algo errado. Existem jogadores melhores que eu, mais jovens e com muito futuro”, admite o jogador, que fez parte da seleção campeão da Olimpíada Militar do Rio de Janeiro, em 2011, e sonhar em disputar a competição novamente neste ano, na Coreia do Sul.