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Transporte clandestino ganha força com a internet

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A internet abriu espaço para a atuação de pessoas que fazem transporte clandestino. Se antes o serviço irregular só era encontrado com facilidade na entrada da rodoviária, onde perueiros atraem passageiros com preços mais baratos, agora, basta um clique para encontrar centenas de avisos de carona remunerada no Facebook, WhatsApp e em aplicativos de celular.

Na rede social, os grupos são fechados e apenas participantes conseguem visualizar os anúncios. Detalhes da viagem, como horário e preço, são acertados por meio de mensagens privadas. Por comodidade, alguns usuários compartilham o número de celulares entre si e migram para grupos no WhatsApp, com a mesma finalidade.

Dois aplicativos viraram febre entre viajantes. O Uber, programa que chegou ao Brasil no ano passado, oferece a “carona paga”. O Beep Me, por sua vez, dá informações sobre o carro, trajeto e permite avaliar o condutor. Ainda que no mundo online muitos motoristas não tenham a intenção de fazer das viagens um ganha-pão, o Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG) ressalta que a atividade torna-se ilegal quando há cobrança pela carona.

A lei estadual 19.445, de 2011, considera clandestino o transporte metropolitano ou intermunicipal remunerado de passageiros realizado sem autorização.

O DER-MG alerta para os perigos desse tipo de carona. Não há garantias das condições mecânicas do carro nem da habilidade do motorista. Também não há COBERTURA DE SEGURO em acidentes. Segundo o órgão, já foram registrados casos de passageiros molestados ou roubados no trajeto.

Os riscos, porém, não intimidam. “Sei dos perigos, mas as viagens são muito mais baratas, e eu consigo chegar em casa até duas horas mais cedo”, conta uma funcionária pública, que, pelo menos duas vezes ao mês, recorre à internet para fazer o percurso entre Varginha e BH.

Até hoje, ela só teve problema uma vez, com um motorista imprudente. Na tentativa de prevenir casos assim, ela sempre tenta pegar carona com uma pessoa conhecida ou busca referências sobre o condutor.

Antes de seguir para Ouro Preto, motorista verifica perfil dos caroneiros

“Sorte não, cuidado”, afirma o motorista de um Palio, que oferece carona em um grupo do Facebook, de BH para Ouro Preto. Ele conta que nunca teve problemas ao fornecer o “serviço” porque verifica antes o perfil de quem vai transportar. Estudante da Ufop, ele faz a viagem semanalmente à capital, para visitar a família e a namorada. Na manhã da última quarta-feira (25), o Hoje em Dia acompanhou o trajeto de volta à cidade histórica com ele.

Ao custo de R$ 20, três pessoas, incluindo a repórter da equipe, embarcaram na rodoviária de BH. Enquanto ele chamava os outros passageiros, deixou o carro aberto com as chaves na ignição. Outra pessoa esperou o veículo em um posto de gasolina, na avenida Nossa Senhora do Carmo.

Os passageiros não se conheciam até então. A maioria preferiu permanecer em silêncio durante a viagem, tal como, presume-se, fariam no transporte público. O motorista, entretanto, foi muito receptivo.

A viagem foi muito mais rápida e confortável do que a feita pelas empresas que operam no terminal rodoviário e cobram R$ 30. O percurso chega, em média, a quase duas horas no transporte regulamentado, enquanto a corrida no carro particular durou cerca de uma hora e meia.

A velocidade do veículo, que aparentemente estava em bom estado de conservação, ficou em torno dos 90 km/h. No trajeto, nenhuma situação de risco por imprudência do condutor foi verificada.

No desembarque, o motorista ofereceu vários pontos ao longo do trajeto, entre a rodoviária de Ouro Preto, o centro histórico e as imediações da universidade. O pagamento foi feito ao fim da viagem.

O estudante começou a oferecer caronas por sugestão na namorada, que já realizava esse tipo de transporte. É ela quem normalmente anuncia no grupo do Facebook, onde são divulgadas as datas e os horários das partidas. Quando há interesse dos participantes, a conversa segue via WhatsApp, onde são passadas mais informações, como características do veículo.

Mesmo com a possibilidade de redução dos custos da viagem, o motorista reconheceu alguns riscos. Ele contou que outro condutor, ao levar um casal para a cidade, foi assaltado.

Configurar flagrante é tarefa praticamente impossível

Responsável pela fiscalização, o Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG) reconhece que fazer o flagrante de irregularidade se torna muito mais difícil quando as caronas são marcadas pela internet. Mesmo que o carro seja parado em uma blitz, nem sempre há provas da irregularidade, o que impossibilita a aplicação da multa e a apreensão do veículo.

Para o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros no Estado de Minas Gerais (Sindipas-MG), falta INVESTIMENTO em fiscalização. “Hoje, o DER conta com 120 agentes. Como Minas Gerais é um estado muito grande, quem transporta passageiros de forma ilegal encontra as estradas livres. Precisaríamos de pelo menos 600 fiscais”, diz Valdi Caetanos Ferraz, assessor de imprensa do sindicato.

Como consequência, as receitas das empresas de transporte caem a cada ano. A Viação Presidente, por exemplo, que desde 1976 atende à região do Vale do Aço, contabilizou um impacto de 30% nos lucros dos últimos três anos.

“Sabemos que mais pessoas adquiriram carros e motos e que as passagens de avião estão mais baratas. Ainda assim, atribuímos essa redução, sobretudo, à atuação de pessoas que oferecem, de forma clandestina, um serviço que é regulamentado”, afirma James Houara, advogado da empresa.

Ele ressalta que, embora muita gente reclame do preço das passagens – uma viagem para Ipatinga custa cerca de R$ 65 –, o valor é condizente à qualidade do serviço. “Os ônibus chegam a custar R$ 800 mil, têm tecnologia de ponta e são revisados regularmente. Além disso, os motoristas fazem reciclagens anuais. Se a pessoa for avaliar todas essas vantagens, verificará que a tarifa é barata”.

O DER informou que o número de fiscais se adequa às estratégias de combate ao transporte clandestino e que, quando há denúncias, os grupos no Facebook são “monitorados”.

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