Setor é responsável por 35% do PIB mineiro
Roberto Simões: “O que a agricultura e todos os setores econômicos
de Minas precisam é de uma mentalidade desenvolvimentista”
(Foto: Ass / Faemg)
*Felipe José de Jesus (JCE)
2014 tem sido marcado pelas oscilações na economia e o setor do agronegócio não escapou devido a falta de chuvas em diversas regiões de Minas Gerais. De acordo com os dados da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), a estiagem enfrentada teve forte impacto no segmento. Somente a cafeicultura amargou uma quebra na safra de 30%. Mesmo sendo responsável por 35% do Produto Interno Bruto (PIB) mineiro, (R$ 175 bilhões), a Faemg afirma que não existe muito otimismo em relação à agricultura para 2015.
O presidente da Faemg, Roberto Simões, reeleito para um mandato de mais 3 anos (2014/2017), assegura que existe uma expectativa em relação ao apoio do governo federal e estadual. “Esperamos um posicionamento melhor dos governos para que possamos criar novas políticas para o setor, especialmente no que diz respeito ao comércio exterior para ampliação das nossas exportações e manutenção dos mercados. Os produtores rurais esperam contar com um canal para diálogo franco e aberto e uma Secretaria de Agricultura forte, atuante e capaz de manter uma parceria profícua com as entidades”.
Quais serão as prioridades para o triênio?
O fortalecimento das entidades Senar Minas e INAES vão continuar pautando nosso trabalho, com a ampliação dos programas de treinamento de mão de obra para o campo e de pesquisa para o desenvolvimento da agropecuária. As prioridades para a Faemg serão também a continuidade e consolidação das atividades que já vínhamos desenvolvendo em relação ao aumento da produção, com preservação ambiental, mais tecnologia e inovação para elevar a competitividade dos produtores rurais e a busca pela modernização da legislação trabalhista.
O que representa o setor na economia do Estado?
O agronegócio mineiro é caracterizado pela diversificação de produção. O setor com todas as suas cadeias produtivas são responsáveis por 35% do PIB de Minas Gerais, cerca de R$ 175 bilhões. Ou seja, mais de um terço dessa riqueza vem do campo. Somos um Estado tradicional na atividade agropecuária, maior produtor nacional de café, leite e batata, além de determos o maior rebanho equino do país. Segundo na produção de cana-de-açúcar, feijão e sorgo, e segundo maior rebanho bovino. Nos destacamos também na produção nacional de milho, ovos, tomate, frutas e hortaliças. Além disso, somos o principal Estado reflorestador do Brasil.
Qual foi o resultado da falta de chuvas para o agronegócio?
A estiagem enfrentada este ano teve forte impacto nos custos operacionais do produtor e a redução da produção e da qualidade em diversas culturas. O exemplo mais emblemático em nosso Estado foi à situação da cafeicultura, maior produto do nosso agronegócio e que este ano amargou uma quebra de safra de aproximadamente 30%. Os tratos culturais também foram reduzidos ou praticamente anulados, o que já nos preocupa por possíveis reflexos para a safra que vem, especialmente porque a previsão de chuvas em 2015, dentro da média, traz alento sem grande otimismo. Situação semelhante é enfrentada pela pecuária que teve a pastagem bastante depreciada, em função da escassez de chuvas.
Como o senhor avalia o setor da agricultura em Minas?
No caso mineiro, a diversificação de nossa produção assegura sempre bons resultados para o setor. Em linhas gerais, o que a agricultura e todos os demais setores econômicos de Minas precisam é de uma mentalidade desenvolvimentista mais agressiva e de uma política prática com foco no resultado. De nada adianta toda nossa eficiência da porteira para dentro, produzindo mais e melhor, se não houver como transportar, armazenar ou exportar essa enorme produção. Precisamos suplantar gargalos diversos. É fundamental ainda uma política efetiva sobre questões de crédito, estoques reguladores, preços mínimos, além de ajustes do ponto de vista da tributação e de legislações exageradas. A política pública de subvenção ao prêmio do seguro rural é fundamental para a manutenção da nossa produção em anos atípicos como 2014.
Quais são as expectativas da entidade para 2015 com o novo mandato presidencial?
Esperamos um posicionamento melhor do governo federal para implementação de novas políticas para o setor. Principalmente no que diz respeito ao comércio exterior, com ações efetivas de adidos (representantes brasileiros) e do Itamaraty para ampliação das nossas exportações e manutenção dos mercados conquistados, como é o caso da carne suína para a Rússia. Outros pontos que precisam ser trabalhados são: a necessidade de uma política agrícola real e de longo prazo, o fortalecimento do Ministério da Agricultura e suas estruturas, os investimentos em pesquisa, infraestrutura e adequação da legislação.
O que a entidade espera do novo governador de Minas?
Durante o período eleitoral, promovemos um encontro dos candidatos ao governo do estado com o setor rural mineiro. Foi muito produtivo e ao final do evento entregamos o documento “O que esperamos do próximo governador”. Assim como fizemos para a gestão federal, como investimentos em infraestrutura, pesquisa, produtividade e inovação para maior competitividade. Os produtores rurais precisam contar com um canal para diálogo franco e aberto com o novo governo, e uma Secretaria de Agricultura forte, atuante e capaz de manter uma parceria profícua com os agricultores, pecuaristas e entidades do setor. O agronegócio tem grande importância e contribuição para a economia mineira e precisa ter peso político e ordenamento orçamentário equivalentes. É preciso que seja valorizado e, sobretudo, ouvido antes das grandes decisões. Não está aí uma questão partidária, mas de reconhecimento e vontade política, algo que acreditamos ter de sobra no governador eleito.