Para diminuir demissões, governo estuda
elevar tributos em até 45%
Altamiro Carvalho: “A medida interfere no direito dos empresários de tomar
livremente as decisões a respeito de seus negócios” (Foto: Fecomércio/SP)
*Felipe José de Jesus (JCE)
Com o baixo índice de crescimento econômico registrado em 2014 por causa dos juros e inflação alta, muitas empresas começaram a demitir no Brasil. No entanto, para frear esta situação, o governo federal estuda desde março deste ano, a possibilidade de elevar os impostos pagos pelas empresas em 45% caso a taxa da rotatividade da mão de obra supere o índice médio de demissões do setor.
De acordo com o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Miguel Rosseto, o Projeto de Lei servirá para desestimular a rotatividade e assegurar o posto do empregado, mas por outro lado, isso pode incomodar as empresas.
O economista e assessor econômico da Fecomércio- SP, Altamiro Carvalho, explica que a medida do governo vai contra a política adotada pelos empresários. “Em concordância ao estudo que fizemos sobre essa situação, a medida interfere no direito dos empregadores de tomar livremente as decisões a respeito de seus negócios. Essa alta rotatividade da mão de obra é exatamente um dos principais desafios com o qual os empresários do varejo têm lidado nos últimos 10 anos”.
Segundo Carvalho, o comércio varejista é o terceiro setor com mais rotatividade e não o primeiro, como vem sendo destacado por pesquisas divulgadas na imprensa. “O estudo é claro. Esse segmento registrou em 2014 um giro médio mensal de 4,3%, ficando atrás da construção civil e da agropecuária, setores caracterizados por alta sazonalidade”, comenta.
O economista relata que essa grande rotatividade que é defendida pela Fecomércio-SP como ‘direito dos empresários’ não traz despesas elevadas, mas existem outros fatores que prejudicam o setor. “Claro, ela traz mais custos, às vezes altíssimos, principalmente nos processos de recrutamento e seleção, admissão, treinamento e integração, sem falar no desligamento. É comum no comércio um colaborador já estabelecido no quadro de funcionários de uma empresa ser direcionado durante um tempo para aplicar treinamento básico a um novo colaborador admitido. Assim, além dos custos de admissão e desligamentos, há a ‘perda’ das funções produtivas de um funcionário para, temporariamente, dedicar-se ao treinamento de outro”, salienta.
Carvalho destaca também, que de acordo com o levantamento e pesquisa da Fecomércio-SP, esse deslocamento onera as empresas. “Cada dia em que um funcionário é deslocado de suas atribuições para treinar outro há, em média, uma perda de funções produtivas em torno de R$ 80 a R$ 100 e isso apenas na capital paulista, já em outros locais esse valor pode ser ainda maior”, finaliza.
Outro lado
A especialista financeira e de pessoal Liliane Ferreira discorda e diz que existem saídas e vantagens para evitar a rotatividade. Para ela, a PL proposta pelo governo é interessante. “Este giro é uma possibilidade real, uma vez que os colaboradores estão sempre em busca de melhores oportunidades. Não criar meios para enfrentar o problema pode gerar uma queda na produtividade e a perda de competitividade”, relata.
Segundo a especialista, a troca de funcionários tem aumentado demais. “Uma pesquisa da consultoria Robert Ralph, de 2010 a 2013, confirma que a rotatividade de funcionários no Brasil cresceu em 82%. Cabe ressaltar que os profissionais mais qualificados sempre têm seu trabalho garantido. Agora, a PL é de suma importância para evitar o descarte de funcionários”, diz.
De acordo com Liliane, a alta rotatividade ao contrário do que vem sendo defendido, gera sim muitos gastos para as empresas. “Em termos de Recursos Humanos, estes gastos podem ser divididos em primários, secundários e terciários”.
A especialista lembra que se aprovada, a PL será justa, pois arranhará menos a imagem das empresas. “É preciso destacar o reflexo que a alta demissão de funcionários causa na reputação e imagem dos negócios. Muitos consumidores, parceiros e sócios de uma empresa podem pensar que este fenômeno implica em quedas na qualidade de produtos e serviços executados por colaboradores que não possuem tanta prática, além de acreditar que se muitas pessoas saem de uma companhia, há algum problema no negócio”, conclui.