Um programa de treinamento para pretensos “jornalistas”, promovido pelo jornal Folha de S. Paulo, provocou indignação no meio acadêmico e sindical dos jornalistas brasileiros. Num anúncio publicitário, o jornal convida estudantes e recém-formados de qualquer área do conhecimento para fazer um cursinho rápido sobre jornalismo e se credenciar a trabalhar na própria Folha. Para a FENAJ o anúncio e a realização do curso demonstram o descaso da jornal com o Jornalismo e com a profissão de jornalista.
“O fazer jornalístico, em toda sua complexidade, não se aprende num cursinho rápido. A FENAJ defende a exigência da formação de nível superior específica em Jornalismo para o exercício da profissão e quem não compreende a importância da formação profissional, na verdade, não compreende a importância do Jornalismo como forma de conhecimento imediato da realidade”, afirma a vice-presidente da Federação, Maria José Braga.
Para Maria José Braga, a postura do jornal da família Frias não surpreende e é reprovável. “Desde os anos 1980, a Folha investe contra a profissão de jornalista e agora mais uma vez mostra todo o seu desrespeito pela profissão e pelos profissionais”, registra. Segundo ela, a formação humanística, teórica, técnica e ética necessária ao bom exercício da profissão de jornalista não se adquire com um treinamento de 16 semanas. “No máximo, vão treinar os jovens a redigir frases curtas e fazer parágrafos de três linhas, que é a regra nº 1 de redação do jornal”, critica.
Na mesma linha, a secretária da FENAJ e coordenadora da Campanha pela Aprovação do PEC do Diploma, Valci Zuculoto, também criticou a ação da Folha. Jornalista com grande experiência nas áreas de jornal e rádio, Valci é atualmente professora do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina e defende a formação de nível superior em Jornalismo como critério de acesso à profissão. “A evolução do Jornalismo no Brasil deu-se a partir da criação dos cursos superiores e da regulamentação da profissão. Ambos foram reivindicações da categoria que se tornaram conquistas”, lembra.
O professor e jornalista Rogério Potinatti, de São Paulo, dirigiu-se à FENAJ e ao Sindicato dos Jornalistas de São Paulo para manifestar sua indignação. “É inconcebível que um veículo de comunicação como a Folha, estimule o exercício do jornalismo a qualquer pessoa, como vemos surpreendentemente no anúncio publicado no dia 29 de setembro”, crítica. “Como assinante do jornal, como jornalista profissional, como professor universitário e principalmente como cidadão, me sinto desrespeitado com este desestímulo à formação profissional de qualidade”, completa.
O programa de treinamento da Folha – que não é remunerado e não é estágio – é aberto a qualquer pessoa que tenha curso superior concluído ou em andamento e que “seja criativa, bem formada e julgue ter talento para o jornalismo”, conforme o anúncio publicado na edição do jornal do dia 29 de setembro. Para 2015, o programa, a ser desenvolvido em 16 semanas, na sede da Folha, em São Paulo, é patrocinado pela Ambev, Odebrecht e Philip Morris Brasil.