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Enquanto tocha é acesa na Grécia, Rio vive tragédia em ciclovia-símbolo

3 Min leitura

Ao menos duas pessoas morreram nesta quinta-feira no desabamento de trecho da Ciclovia Tim Maia (conhecida também como Ciclovia Niemeyer), no Rio de Janeiro, inaugurada há apenas três meses ao custo de R$ 45 milhões.

Construída em uma rota elevada sobre costões e rochedos, com as ondas do mar de um lado e a mata atlântica do outro, a ciclovia fica entre as praias do Leblon e São Conrado, e foi atingida por uma forte ressaca que destruiu parte da estrutura.

Veja vídeo: Nova ciclovia do Rio permite pedalar entre mar e mata atlântica

O acidente ocorre no mesmo dia em que em Olímpia, na Grécia, a Tocha Olímpica foi acesa, um momento importante que simboliza a proximidade dos Jogos, cuja abertura no Maracanã está marcada para 5 de agosto.

Vítimas

Segundo o secretário-executivo de governo da Prefeitura do Rio, Pedro Paulo Carvalho Teixeira, já há confirmação de duas mortes pelo desabamento, e uma pessoa estaria desaparecida.

No fim da tarde desta quinta-feira, foi idenficada uma das vítimas. Eduardo Marinho Albuquerque, engenheiro de 54 anos, foi um dos mortos no desabamento, reconhecido pelo cunhado, João Ricardo Tinoco.

Os bombeiros encerraram as buscas por volta de 19h e irão retomá-las nesta sexta-feira.

Causas

Embora as autoridades estejam preliminarmente identificando como provável causa do desabamento a forte ressaca, engenheiros dizem que há grandes chances de falhas estruturais, já que se sabia de antemão que a ciclovia estaria exposta a fortes ondas.

Segundo o engenheiro civil Antônio Eulálio, integrante do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ), o projeto não teria previsto a ação de ondas fortes sobre a estrutura. “Ainda é preciso fazer uma análise, mas tenho 99% de certeza que a causa foi essa”, afirma Eulálio à BBC Brasil.

“Já participei da construção de plataformas da Petrobras e, em obras assim, é preciso prever o efeito do que chamamos de ‘onda centenária’, ou seja, a onda mais forte gerada num período de cem anos segundo as estatísticas. O projeto não deve ter previsto nenhum efeito de onda.”

Em nota, o prefeito Eduardo Paes lamentou o acidente. “É imperdoável o que aconteceu. Já determinei a apuração imediata dos fatos e estou voltando para o Brasil para acompanhar de perto”, disse.

Paes deixou o Rio na quarta-feira à noite rumo à Grécia, onde participaria da cerimônia da passagem da Tocha Olímpica.

Questionado em entrevista coletiva sobre as possíveis causas – e o fato de o episódio ter ocorrido já na reta final dos preparativos olímpicos -, o secretário Pedro Paulo disse que esperará o laudo final, mas que “todos estamos muito tristes, precisamos auxiliar as vítimas e deixar a equipe técnica trabalhar para sabermos o que aconteceu”.

Ele disse que uma das possibilidades é que a força das ondas tenha levantado a base da ciclovia e derrubado-a.

Resposta do Consórcio

O Consórcio Contemat/Concrejato, responsável pela obra da ciclovia, divulgou uma nota sobre o incidente dizendo que “vai trabalhar incessantemente até que sejam conhecidas as causas do acidente ocorrido na manhã de hoje em ciclovia na orla do Rio de Janeiro. As prioridades neste momento são garantir o atendimento às vítimas e a seus familiares e dar início à apuração acerca das causas do acidente.”

O consórcio reforça que “segue todos os protocolos e normas de segurança, utilizando-se das mais modernas técnicas e equipamentos de construção”.

Sobre a obra específica da ciclovia, a empresa diz que “todo o processo foi supervisionado pelos órgãos de fiscalização competentes.”

Ciclovia

Ao custo de R$ 44, 7 milhões, a obra levou pouco mais de um ano e meio para ficar pronta e tem 3,9 km de extensão, com 2,5 metros de largura.

Pouco depois do desabamento, o bodyboarder Fabio Aquino conseguiu chegar ao local e gravar um vídeo da estrutura danificada (veja acima).

“Não imaginava que aconteceria algo tão trágico”, disse ele à BBC Brasil, agregando que temia que uma tragédia acontecesse no local – por acreditar que a obra não teria “sido bem feita”.

Apesar de não ser uma obra olímpica, a ciclovia liga a Zona Sul do Rio à Barra da Tijuca, justamente o bairro que abrigará o Parque Olímpico e sempre foi anunciada como parte das transformações vividas pelo Rio de Janeiro em função da Olimpíada.

A Ciclovia do Joá, cujas obras devem ficar prontas em junho, será a continuação do percurso, ligando São Conrado à Barra, e possibilitando ir de bicicleta do centro do Rio até a Barra. E já há questionamentos sobre a estrutura desta parte da obra, já que o projeto é essencialmente o mesmo.

Pedro Paulo afirmou que esse projeto deverá ser reexaminado.

Em nota divulgada na tarde desta quinta, o prefeito Eduardo Paes afirmou que “é imperdoável o que aconteceu. Já determinei a apuração imediata dos fatos e estou voltando para o Brasil para acompanhar de perto”.

Segundo a nota, “o resultado da vistoria realizada pela Fundação Geo-Rio para apurar as causas do acidente será divulgado assim que concluído. Os reparos serão executados pela empresa responsável pela construção, sem ônus adicionais ao município, já que a ciclovia ainda está na garantia de obra”.

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